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sábado, 28 de agosto de 2010

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Bem, esse jovem conheceu de perto a sensação de suprema impotência diante da inusitada situação: ser pai de dois, em duas mães, separadamente e ao mesmo tempo. Como sair dessa? Não havia mais como sair. A questão era “o que fazer e como fazê-lo?”

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Excerto do livro

As Duas Barrigas




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E assim o tempo foi caminhando, as duas barrigas aumentavam de volume, os bebês se agitando dentro delas, a cumplicidade crescia e aproximava as duas futuras mamães cujas afinidades refletiam o que elas tinham em comum. E não era pouco. O pai duplo, nem sempre estava presente nestas trocas de enxovais, de dúvidas, de receios e de ansiedades. Raquel preferia não vê-lo, tinha lá os seus motivos. Ocasionalmente os três compartilhavam a mesma conversa, mas nada com muita profundidade. Era bonito ver o relacionamento respeitoso que se estabeleceu. Nenhum dos três expressava o que realmente pensava sobre esta delicada situação em que se envolveram, mas sabiam que as crianças que estavam pra nascer mereciam todo o esforço de superação de mágoas ou rancores. As gestantes tinham consciência dessa necessidade. Ele, aparentemente também a tinha; na realidade, não se sabe. Talvez se saiba um dia?

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Luzia nada entendia de criança, nem de parto, muito menos de cesariana. Aprendera bem literatura, gostava de poesia, teatro, dança psicologia. De parto não sobrara muito tempo para conhecer ou gostar. Brincar de ser mulher não era seu hobby. Quando pequena optava por fazer cercas de gravetos e barbante e colocar vaquinhas dentro do pasto – pequenas mangas verdes com quatro pauzinhos encravados, simulando patas - punha porteira, lago e capim para as mesmas se deliciarem. Imitava porco na lama, vestida apenas com calcinha, cavava um buraco no chão, enchia d’água e fingia ser uma porquinha no lodo; saía de lá de cor marrom meio avermelhado, ao chamado de Dona Sílvia, que ficava meio confusa ao ver a filha com tantas artimanhas e criatividade. Exceto fazer bonecas dormirem ou se banharem: não as tinha. Costumava, mesmo disputando com as irmãs, pegar bonecas de milho direto no lindo milharal, podendo ainda escolher o tamanho e a cor do cabelinho: preto, ruivo, amarelo ou rosa. Roupa verde e com cheiro natural. Elas duravam algum tempo até ficarem murchas, e, em seguida, serem substituídas por outra. Aí esperar a próxima safra de milho. Resquícios de maternidade, talvez, o ato de fazer o afável cabritinho dormir em seu colo, quase todo final de tarde. Cantar para ele e depois devolvê-lo à mãe, já meio preguiçoso.

Receita para limpar os rins!

RECEITA PARA LIMPAR OS RINS (indicação da amiga Gisa)

Os anos passam e nossos rins vão filtrando nosso sangue para remover o sal
e outros intoxicantes que entram no organismo.
Com o tempo, o sal se acumula e precisamos de uma limpeza. Como fazer isso?
De um modo simples e barato:
- Pegue um maço de salsa e lave bem. Corte bem
picadinho e ponha em uma vasilha com água limpa. Ferva por 10 minutos e
deixe esfriar. Coe, coloque em uma jarra com tampa e guarde na geladeira.
Beba um copo todos os dias, por algum tempo, e você vai perceber que o sal e outros venenos acumulados nos rins saem na urina.
> Você vai notar a diferença!

> Há muitos anos a salsa é reconhecida como o melhor tratamento de limpeza dos
rins.
- E é um remédio natural!

Sobre a Salsa


A salsa é uma das ervas com propriedades terapêuticas menos reconhecidas.
Ela contém mais vitamina C do que qualquer outro vegetal da nossa
culinária (166mg por 100g).
Isso é três vezes mais que a laranja.

A salsa contém também ferro (5.5mg /100g), magnésio (2.7mg / 100g), cálcio
(245mg / 100g) e potássio (1mg / 100g) .
De acordo com o Padre Kniepp, essa planta é um poderoso diurético, curando a
retenção de água no organismo, sendo recomendada para pedra nos rins,
reumatismo e cólica menstrual.
Sua alta concentração de vitamina C ajuda na absorção de ferro.

O suco de salsa, sendo uma bebida natural, pode ser tomado misturado com
outros sucos, 3 vezes ao dia.
As folhas podem ser mantidas no congelador, e seu uso é recomendo na
culinária diária, pois além de saudáveis, dão ótimo sabor a qualquer
receita.

Dicas e sugestões de tratamentos holísticos e tradicionais ( ótimos profissionais )

A quem se interessar, abaixo estão alguns contatos de terapia holística e alguns tradicionais (bons profissionais):


-Yara ( acupunturista, estudo da íris e orientação) Rua do Trabalho, 2422, Fone 3035 5562 e 9634 7266.

-Psicólogas e trabalham também com regressão: Silvia Scarassati (Av Presidente Keneddy, F 3421 0507; já fiz com ela); -Maria José ( f3432 4536); -Espaço de meditação, Reiki e psicóloga Claudia (Rua José Ferraz de Camargo, 174, perto do Coc, f 3422 6163).

-Sandra Viccino, terapia holística ( Fone 9291 0177, Vila Monteiro).

-Cassio Padovani, artista plástico, trabalha com arteterapia através de análise de sonhos, desenhos, etc. ( rua Voluntários, esquina com Jose Pinto de Almeida; Fone 3433 9359. Já fiz terapia com ele ).

-Barracão de Luz ( Rua Napoleão Laureano, um quarteirão antes da Rodovia Luis de Queiróz, Vila Independência). Às 2ªs feiras há aplicação de Reiki, gratuito, às 18h30; às 5ª feiras Reiki, massagem e atendimento espiritual; às 6ªs feiras atendimento espiritual.

-Casa Espírita Francisco de Assis: cura através da Cromoterapia (Em frente ao supermercado Beira Rio, Rua Território do Acre, acima do supermercado Coop; atende às 3ª, 4ª e 6ª feira, às 19 hs e domingo às 9 horas ).

- Vacina contra o câncer: WWW.vacinacontraocancer.com.br (Hospital Sírio Libanês –Grupo Genoa F 0800 7737327 ).

- Remédio contra o câncer: ver a receita da Babosa.

- Microfisioterapia : Rua Sarquis Abide, 70, Porto Feliz; Fone (15) 3261 5500 e 9149 5216; e-mail silviafisioterapia@terra.com.br

-Apometria:  GAAC (Grupo de Apometria Amor e Caridade ) , Rua Porf. Heitor Mayer, 63, Guanabara, Campinas. http://www.gaac.com.br/      e-mail  gaac.social@uol.com.br   Fone (19) 3365 4743 (Cláudio).

- Nave : tratamento das personalidades...(passado e presente)  http://www.vialuz.com/   (responsável: Gisa, fone 3243 7394), Guanabara, em Campinas,  às 2ªs feiras, 18h45.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O meu primeiro livro A MENINA DO BAIRRO FRIA - Sonhos e Desabrochar é um belo romance autobiográfico. Com 241 páginas, vai mexer com a sua vida, causar emoções e enlevo. À venda nas Livrarias Nobel e Libral (em Piracicaba); na Nobel de Santa Bárbara e na Apolo em Campinas. Encomendas também por e-mail e entrega via correio. Leia, ria, chore e comente neste blog que também é seu! Feliz idade! Obrigada.

excerto do meu livro publicado

                 Dona Auda, sagaz por natureza, conferiu e assentou o valor. Sabia que outrora, ele já tentara manipular o valor oficial. Não confiava nele, nem na presença da contemporizadora esposa. Partiu. Teria que caminhar no escuro por uma hora, na estrada de terra que ligava a Usina à sua casa. Sentia-se aliviada. Era daquele dinheiro que toda a sua família dependeria para passar o ano vindouro. Agradeceu a Deus, pegou na mãozinha da filha que a acompanhava sem compreender direito o que se passara ali, ou por que aquilo se passara.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Confusões da avó Maria (Trata-se de um capítulo do Livro A Menina do Bairro Fria)

CONFUSÕESDAAVÓMARIA


-H i, a vaca foi pro brejo! Onde está a vó Maria!!!?? Era a 3ª vez que a avó materna, com esclerose precoce, fugia da casa De Dona Auda e era a vez de Regina espantar-se com a gravidade da situação. Dona Auda morava ainda na Rua Samuel Neves, onde abrigou a confecção por alguns meses.
-Ela estava aqui agorinha mesmo, meu Deus. Onde ela teria ido, e a essas horas?- Enxugando as lágrimas que frequentemente escalavam sua face, apesar de já ter realizado a cirurgia no canal da lágrima, Dona Auda desligou a máquina de costura, ajeitou o tecido sobre a mesma e levantou-se com a agilidade habitual. –Temos de ir atrás dela. Sua cabeça não anda boa, e ela não saberá retornar para casa, completou.
-Eu vou com a senhora, mãe. Ela não deve estar longe, se bem que, a perna dela está com muita saúde, né!?! Regina e a mãe subiram a escada que dava acesso aos quartos, a mãe trocou rapidamente sua saia marrom, de viscose amassada, por uma verde, de algodão. Desceram a rampa externa e Regina foi fechando a porta da sala. Regina filha apressou-se. Dona Auda já estava quase chegando à esquina e parecia um cisco ao vento, de tão lépida.
-Da última vez ela foi parar lá no Lar dos Velhinhos, lembra? Gritou Ana, aumentando os passos para alcançar a mãe.
-Se lembro...Foi preciso o policial ajudar a procurá-la. Até hoje não entendo como ela conseguiu chegar lá, e a pé. Foi Deus quem iluminou seus passos, porque a cabeça dela não ajuda mais, não.
-Olhe ali, mãe!? Por acaso não é daquela cabeça branca que estamos falando? Regina riu aliviada ao vislumbrar a avó virando o segundo quarteirão, como uma garça.
-Graças a Deus! Com tanta coisa pra costurar e ela ainda inventa de dar no pé. O que é que tem na cabeça, minha Nossa Senhora? Não tá bom aqui? Só reclama de tudo e de todos.
-Calma mãe. Esclerose é assim mesmo. O que se vai fazer, né?!! Enquanto ela ficar aqui temos que cuidar, mas logo ela vai para a casa da tia Neuza. É a vez dela, não?- Alcançaram –na e tiveram que levá-la contrariada, pois resistia, gritando:
-Larguem eu, quem são oceis? O que oceis vão fazer comigo? Us menina?! –Era assim que ela se referia às netas quando lhes dava uma bronca. - Benedito! Ô Benedito!? Vem ajudar eu... socorro!!
-Calma Vó. Sou eu, a Regina, sua neta, não tá lembrada? Olhe pra ela, é a sua filha Auda. -Regina persistia em relembrar à avó aquilo que a sua frágil memória não permitia mais lembrar-se. Regina e Auda sabiam disso, mas não custava nada, ou melhor, era-lhes penoso tentar clarear novamente suas lembranças. De fato, as reminiscências de Dona Maria estavam cada vez mais voltadas a um passado remoto. Chamava pelos filhos como se crianças ainda o fossem, e o marido falecido, o Benedito, era requisitado com maior frequência. Ele falecera em 22 de agosto de 1977, com 68 anos completados no dia 03 de julho. Ela perdera totalmente a noção do tempo e do espaço. Chorava e lamentava-se pela demora das suas crianças de voltarem da roça.
–Já é noite, onde eles tão? Eu preciso ir embora pra minha casa, os fio tão chamano, escuite! Tá ouvino o choro deles? Já vô, já to ino, meninos. -E alvoroçava-se, com uma agitação fora do controle. Normalmente ela deparava-se com a porta fechada e aí xingava, esmurrava, gritava. Por várias vezes, os transeuntes paravam na calçada para perguntar o que estava acontecendo com a velhinha prisioneira, na janela.
Outras vezes estranhava os próprios filhos e filhas.
-Quem é ocê? Saia já da minha casa.
-Sou eu, mãe, a sua filha Cleymarí. –Era a sua bela e elegante filha caçula.
-E aquele moço ali? Boa tarde, Pedro, é você mesmo? Entre! Sente...Como vai a mãe?- Apertava a mão do entregador de gás, desconhecido seu. Ignorava a filha.
Não distinguia mais nada. Até a comida passou a ser obstáculo, não se saciava mais, quanto comia, quanto sentia fome, concomitantemente. Era desesperador para a família acompanhar dia-a-dia a senhora definhar-se. Ela ia até a janela que dava para a rua, alardeando aos quatro cantos:
-Tô cum fome!!! Alguém acode eu! Eles não me dão cumida!!!! Moço! Pelo amor de Deus! Me dá um pão. –Chamou acenando ao jovem que passava. Ás vezes perdia o pouco da vergonha que lhe sobrara, e pedia para tirá-la daquela casa. Se não fosse uma triste cena, seria cômico para os pedestres observarem aquela velhinha de cabeça branca com ralos fios, macios e sedosos esvoaçando com o vento pelas grades da janela, clamando por socorro. Uma donzela envelhecida prisioneira nas mãos de cruéis torturadores, ou melhor, de uma quadrilha composta por membros da mesma família. “Como podem fazer isso comigo?” Pensava a mulher à espera do príncipe cavaleiro, que heroicamente a libertaria do subjugo.
-Mas mãe, a senhora acabou de almoçar e eu acabei de lhe dar duas bananas que também já engoliu, como pode estar com fome de novo?- Falou Dona Auda, fechando a janela, impacientando-se. –E tá na hora do banho, hoje a senhora não escapa. -Dona Maria relutava em banhar-se, o que causava repetitivos transtornos àqueles que cuidavam dela.
-Mentira! Sua mentirosa! ocê não me deu nada! Ó aqui ó, que eu comi hoje, só se for essa banana, viu?! -Fazia um gesto dobrando o cotovelo em sinal de “banana procê”. Sua mentirosa, vocês são tudo pão duro, Deus vai castigar ocê, sua lazarenta! Desgranhenta! –Dona Auda a puxava. Ao passar pela sala, Dona Maria empacou e sentou-se no sofá.
-Não adianta, mãe, ela não entende mais nada. Nem o seu próprio estômago ela controla mais, disse Luzia sentando-se ao lado da avó e pondo as pequenas mechas de cabelo, caídas atrás das orelhas da anciã. Foi uma das poucas vezes que conseguiu tocá-la espontaneamente, e por permissão daquela. Pobre senhora. A neta se identificava com as dores da avó, mas também se sensibilizava com o desespero e o desgaste emocional de Dona Auda e de todos os familiares. Estavam sem o chão sagrado que sempre os fortalecera e os encorajara a enfrentar os problemas, mas esse aí, como resolvê-lo? Não estavam preparados para lidarem com a doença da matriarca. Luzia sabia que a personalidade da mãe impedia que demonstrasse o tamanho de seu sofrimento, este estava camuflado nos choros contidos e escondidos, mas as olheiras e a seriedade do olhar denunciavam seu desamparo em relação ao comportamento de sua mãe, cada vez mais distante do tempo presente. A jovem sentia necessidade de consolar a mãe e reanimá-la.
- Talvez seu inconsciente rememore a época em que ela e as crianças passavam necessidade, coitada da vó. Ontem foi a mesma coisa, dei-lhe comida o dia todo e o dia todo ela reclamou de fome, e vinha atrás de mim, pedindo e exigindo comida.- Disse Luzia pensativa.
-Que Deus me perdoe, mas às vezes tenho a impressão de que ela faz essas coisas por manha, acho que é até mesmo pra prejudicar a gente. Eu nem sei mais o que pensar.
-Se acalme mãe, não acredito que ela faça por mal, é que ela está doente, sente-se só e a cabeça não ajuda. É digna de pena, é o que eu acho.
-Ah não sei, viu! Como é que tem horas, quando ela quer, que fala coisa com coisa e se lembra de quase tudo?!
-É assim mesmo. A memória vai e vem. Já li sobre isso. É tipo flashes de lembranças, que se acendem e depois se apagam. Deve ser terrível para ela ficar acreditando que ainda é uma mocinha neste corpo envelhecido ou, que é uma mãe com seus filhinhos largados por aí. E só o fato dela depender dos outros, dela não ter autonomia para cuidar de sua casa, já deve ser bem constrangedor. Vai chegar uma hora em que estará mergulhada num breu total, e aí sim, não sei o que será dela e dos que cuidam dela. Luzia percebeu nas mãos ansiosas de sua mãe a profundidade de sua angústia, e completou: as tias e os tios não vão fazer um revezamento para olhar a vó? Então, mãe, fique tranquila, que daqui a uma semana é a vez da tia Izolina ficar com ela. Assim vamos tendo tempo para repor as energias.
-E, e olha que precisa de muita. Agora, eu quero ver se todos os filhos vão ajudar. Já tem alguns querendo tirar o corpo fora e você já sabe pra quem vai sobrar...
Entre tantas confusões de Dona Maria, algumas marcaram, por serem hilariantes, uma criatividade fantástica.
Certa ocasião, no início da doença que a acometia, estavam suas filhas reunidas na casa de Dona Auda, junto com a mãe, quando zapt! Adentrou a cozinha uma barata voadora e das grandes. Horror!! No corre-corre e na gritaria, algumas entram embaixo da mesa, outras fogem para os quartos e trancam-se, outras ainda, tentam deter Dona Maria que acabara de agarrar a barata gigante com a mão esquerda e corria atrás de todos, rindo como uma criança sapeca. De repente parou, olhou para os olhos assustados das filhas e das netas... matou a barata, esmagada na palma de sua mão.
Em outro momento, quando Luzia estava de dieta da filha, e todos estavam ausentes naquela tarde, a avó encanou com um grande espelho que havia na sala de costura de Dona Auda, para a experimentação de roupas pelos clientes.
– Abra esta porta fia, preciso ver o meu marido e as criança que tão chorano por mim, dizia isto e tentava tirar o espelho do lugar, acreditando fielmente que tratava-se de uma porta. Não via a própria imagem refletida nela.
– Mas vó, não tem nenhuma passagem secreta aí, é só um espelho, Luzia tinha que despistá-la. O espelho era pesado e ela não podia esforçar-se muito, mesmo assim arrastou-o várias vezes na esperança de que a avó descobrisse a ausência de portas atrás do espelho, Em vão. A avó continuava seguindo o espelho e exigindo que lhe desse passagem.
–Saia daí, ocê e os outros tão sempre quereno enganar eu, pensa que não sei? Luzia ouviu o início de choro da filha, no quarto ao lado, e a clemência da avó-donzela para escapar da prisão. Mas ali, naquele momento, não havia príncipes nem heróis para ajudá-las. Salvem-se quem puder! Luzia fez o que pôde: foi cortês com a mãe de sua mãe até onde fora possível, porém, pressionada pela força física e pela força mental daquela, decidiu reagir com maior rigor, usando a criatividade.
–Chega pra lá, a porta que a senhora quer sair está trancada e eu não tenho as chaves. Veja!- Mostrou o espelho para a vó e fez gestos com a mão- Não dá pra abrir assim, nem assim. Nossa! Estamos presas aqui. –A senhora a fitou surpresa, com seus espertos olhinhos escuros. Parecia assustada. Luzia continuou, não podia blefar. – Tem outra saída daquela lado de lá.Vamos, eu também vou fugir com a senhora. Espere, vou pegar algumas roupas. Luzia queria ganhar tempo, sabia que a mãe estava por retornar da lojinha de aviamentos, próxima dali, onde fora comprar botões, elástico, colchetes e linhas. -Escute! Aqui tem uma criança que está chorando!! É a minha filha. Vou pegá-la primeiro, coitadinho do bebê! -Encaminharam-se para o quarto da menina e aí a avó esqueceu-se do estratagema de fuga e voltou sua atenção a querer carregar no colo, a criança. Novas artimanhas da neta para escapulir da perseguição da avó para com a bisneta. Infelizmente não podia confiar nas intenções e da avó – criança. Chega Dona Auda! Alívio!
Estando à nova casa de Dona Auda, no Jardim Colonial, a vó Maria vive uma situação cinematográfica. Vamos à história.
A casa em que residiam ainda não era murada, e, do outro lado da pequena e sossegada rua, moravam Dona Rosária e o seu esposo. Contava com quarenta anos, simpática, amorosa, boa vizinha, tinha o hábito de colocar as roupas lavadas para secarem nos varais da garagem. Nesta manhã efetuava seu serviço cotidiano e cantarolava uma animada música. Não percebeu a aproximação de Dona Maria, que saíra de sua casa temporária, sem ser notada. Parou do lado de fora, rente ao portãozinho verde, da vizinha. Olhou-a com curiosidade e algumas incertezas, as costas levemente envergadas, o ventre contraído em sua solidão e temores, as pernas retesadas, a respiração intranquila. Apoiou os rijos dedos sobre o portão de ferro, as palmas das mãos acompanharam a força impetuosa advinda dos pulsos e dos braços. Apertou com mais intensidade os olhos, cujos cílios quase se encontrariam. Ergueu a mão esquerda, buscou a coragem de sua voz, grave, tocou no ombro de Dona Rosaria como uma coruja, sem ser notada, e, indiferente ao susto disfarçado da mulher, disse num fio:
-Dona muié, Dona muié??!
-O que foi Dona Maria? O que aconteceu?
-Eu to cum medo!!
-Medo de quê, Dona Maria??
-E tô cum medo do cê!!!!
Poliana disse uma vez a Dona Auda, que gritara com sua mãe: “você não está sendo nada legal com a vó Maria!” E dessa época em diante a doença do esquecimento só foi piorando. Revezando de casa em casa de algumas das filhas, Dona Maria acabaria definhando, acamada durante meses, extremamente magra. Seu organismo e sua cabeça enjeitavam comida e mesmo líquido. Sua bela pele, antes bem morena, agora se mostrava sem cor, quase desbotada, e com um fiozinho de vida que ainda sustinha a alma ao corpo. Faleceu aos 77 anos, em 1991, bem distinta daquela mulher forte, que pariu 10 filhos, e dos oito ainda vivos já se esquecera.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

LIVRO A MENINA DO BAIRRO FRIA - Sonhos e Desabrochar (Rom.autobio.)

Prefácio


A narradora aborda fatos pitorescos da sua infância no Bairro Fria, na região de Piracicaba-SP, e sobre o desabrochar como mulher com o êxodo da família à cidade, cuja atividade era o corte de cana.

O romance tem o condão de ligar as fases de uma mulher e sua relação com a sociedade, com as vivências dela e dos circundantes, na matriz caipira que se originou, em diálogos (a autora é atriz e professora de teatro) a palavra escrita segue como pronunciado pelo dialeto vigente na região. Estão presentes também as atividades próprias do campo de antanho, quando não havia toda a maquinaria de hoje ou outras benfeitorias como luz elétrica, água encanada, ou rede de esgoto; os banhos eram de bacia e o lazer eram as brincadeiras no riachinho ou na grama ou com as bonecas de milho. A primeira instrução era na escola da Usina. O ambiente é descrito de forma viva e as personagens emergem do inconsciente de quem realmente viveu na pele da menina do Bairro Fria.

Na sua vida adolescente a menina segue em confronto com a vida da cidade, percebendo aos poucos que existem geladeira e outros eletrodomésticos úteis, mas que ainda há entre as pessoas uma selva de pedra. Torna-se vendedora de bolsas personalizadas de porta em porta, faz muitos amigos e advêm histórias dessas peripécias sofridas e alegres, ao mesmo tempo; desta forma custeia o cursinho e o início da faculdade. Assim vai desbastando a nova realidade, aos poucos encontra outros amigos, ideais, busca, chora, ama e engravida de um mundo informe; sai da república e o casal começa nova vida. Nasce a filha. A relação não perdura. Tem alegrias e decepções, conquista e perda, mas não perde o sonho de ser feliz. Tem de continuar a vida e criar sozinha a menina. Sua luta se dá em várias frentes, não abre mão do estudo, da faculdade e do melhor para a criança. Forma-se professora, licenciada em História, professora de teatro e atriz do Grupo Andaime de Teatro. É uma estrela que brilha num lusco-fusco, tem de dividir-se em mil atividades, inclusive nas domésticas. A menina é mãe, sonha, interpreta e muitas vezes se sente desamparada. Como estudante faz das tripas o coração para pagar o curso universitário e se manter, custeando sua dura vida de estudante e mãe de família, depois professora estadual.

Ela mora alguns anos com a mãe e após vai morar a só com a filha, onde tem alguns móveis e...livros, muitos, aos quais lê para a menina. Nessa época, que confessa um dos melhores, ela e a filha, sem televisão por um ano. A relação com a família se dá sempre que possível.

Presença importante na vida da menina e no livro é a mãe Auda, separada do pai na cidade. O pai vendia doces de cesta e tocava gaita em programas de rádio e veio ver a filha e a neta algumas vezes, com alguns doces que vendia, como presente. Era pobre e instável emocionalmente, mas é possível “vê-lo” na infância da menina. A mãe Auda é fonte de força e convicção à menina que se agarra aos estudos e a seus princípios éticos; conforme a mãe que teve condição adversa e sobressaiu como exímia costureira e em todos os afazeres com capricho, vencendo a exaustão para prover o sustento da família.

Leitores, a obra de uma vida e não a contarei toda neste prefácio, mas sugiro que agucem os olhos.

Piracicaba, 03 de março de 2010. Camilo Irineu Quartarollo
COMPLEXO DA LIBERDADE




O casulo se rompe

A lagarta não cai

Prefere o invólucro aquecido

Não quer abandoná-la jamais



Com um movimento involuntário

A roupagem a expulsa

Contrariada e apreensiva

A borboleta sai



Sobrevoando as laranjeiras

Tem uma visão que a surpreende

Alegra-se ao notar que o mundo lá fora

Também pode ser bem quente



Já faz planos para o futuro

Tem sonhos, ideais

Enamorar; família, filhinhos talvez.

Antecipa as emoções

Vendo-os livremente andar e a acompanhar



Se bem que, na verdade,

Eles irão voar, voar...