Em
dois contos, o universo feminino é revisto por outros ângulos, aos quais
costumamos esconder; a experiência da alteridade, de uma visão não mais
etnocêntrica; a solidão, a busca, encontros e desencontros, a indiferença ou o
fazer diferente; as durezas e cascas da sociedade; a professora; as crenças e a
fé; o limiar da loucura... “nessas condições, somente os loucos podem realizar
proezas impossíveis aos normais”. A sensibilidade, a poesia, a metáfora encontram
lugar em meus contos. Navego em mares
ocultos, pairo na sexualidade recôndita, nas releituras de estereótipos, na
criatividade, nas resistências, naquilo que a sociedade e a cultura podem
paralisar ou avançar. Nem sempre há vítimas ou algozes, porém, a vida e a morte
pulsam em cada um de nós, independente do gênero.
“Em A Colecionadora de Ovos sentimos o cheiro
da casa e do banho da velha Mariana, a rigidez das rugas e do passar dos anos”, como bem observou Marina Henrique no
prefácio. Trabalhei o processo de individuação - uma referência Junguiana – ao
explorar a imagem do ovo, mas também procurei fazer uma homenagem à memória de
meu padrasto João Marçal, de Itamonte, MG, figura importante em nossa vida, e
àquela comunidade rural, todos com grau de parentesco entre si. Este foi o
primeiro conto que escrevi, antes mesmo do romance autobiográfico A Menina do Bairro Fria; foi o
passaporte para as minhas experiências literárias. Escrevi-o em 2008. Foi premiado no II Prêmio Araucária de
Literatura 2010 e Menção Honrosa no Mapa Cultural Paulista 2011, fase regional.
Foto de A Tribuna Piracicabana
Foto de A Tribuna Piracicabana
No conto Torradas Não se Despedaçam, que foi premiado no 2º Concurso
Literário Nacional Prêmio Buriti Cronicontos 2011 (antologia) temos a “hetero e
homossexualidade”, vividas em sintonia com a essência de cada um, sua
singularidade, como seres únicos que somos nós. Este foi meu segundo conto,
escrito em 2010.
A partir de Torradas e de Como folha de
coqueiro a despencar levei alguns
meses para produzir os outros contos. Parte de minha inspiração para os contos
veio da Lygia Fagundes Telles, pois aprecio seu jeito de escrever e suas
ideias. Li, há dois anos, seu romance Ciranda
de Pedra e acabo de ler As Meninas,
este último é forte e, embora escrito em 1973 onde situa a mulher na sociedade
e na família, é bem semelhante aos dias de hoje. Para mim, a arte e a literatura só tem sentido
se vinculadas à transformação, à consciência, à vida propulsora.
Escrevo para manter minha lucidez. Uma,
entre muitas possibilidades, de manifestar meus pensamentos, minhas dúvidas e
anseios perante a vida. O que está próximo e distante, a memória e a história
da sociedade humana. Compartilhar e buscar repostas e saídas para a doença que
atinge a todos, que é a hipocrisia.
“Rimos de corar a face em Dureza”, escreve Marina. Algo semelhante acontece em Maria das Grossas e ambos são contos
corajosos e ousados, eu acrescentaria. Nestes dois contos há uma oportunidade
de revermos o lugar da mulher na sociedade atual, afinal, salvo algum engano
meu, estamos bem aquém do esperado, somos instrumento de riso fácil e fútil nos
programas e espaços de humor; e se antes (nossas avós) se permitia que o
homem/marido fosse ao bordel “acalmar seus desejos” (afinal, só ele tinha
desejos, e por sinal, “incontroláveis”, dizia-se), hoje ele tem isso dentro de
sua casa, por meio da mídia, junto a sua família. Salvo exceções, ainda cabe à
mulher a lida da casa e a lida fora da casa - a famosa tripla jornada de
trabalho, tão ao gosto masculino, que se vê descompromissado das questões
cotidianas, talvez as mais importantes à estruturação de um lar. Vejo então, um
processo rápido de escravização do gênero feminino, por meio da moda imposta,
dos tabus, das crenças e valores disseminados culturalmente, de geração a
geração, inclusive na própria mulher (não a excluirei desta responsabilidade).
Artigo extraído do JP.www.editorapatuá.com.br e pelo e-mailluziastocco@ig.com.br ou telefone 8158 3926 (19) ao preço de R$ 26,00, frete grátis.
Meu blog: literarteLuziaStocco.blogspot.com
Agradeço, de todo coração, às pessoas que já compraram o livro e às que estão nos apoiando com a divulgação.
hum...outro livro para entrevistar....o que achas?aceitas?
ResponderExcluirAmiga,trouxe um selinho comemorativo ao 2º aniversário do Chá da tarde,
http://i701.photobucket.com/albums/ww15/M-amles/anigifchzinho.gif
Linda semana,beijos de luz.