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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mais um ano se passou
a cada segundo um movimento
dirigimo-nos ao momento de nossa morte
Então, aproveitemos o presente
cada instante pulsante
cada inspiração e expiração
que a vida nos inspira
até expirarmos.
    BOAS ENERGIAS E FORÇA DIVINA EM 2012
                        A TODOS VOCÊS

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Conto Torradas não se despedaçam, menção honrosa no 2º Concurso Lit. Nac. Prêmio Buriti Cronicontos - 2011. Foi o meu primeiro conto, escrito em 2010.

Compartilho com vocês, com muito carinho, esse simples conto
                TORRADAS NÃO SE DESPEDAÇAM
- Homero, me desculpe, mas é a quarta vez que deixo a minha toalha dobrada na cama pra tomar banho e você a guarda na gaveta. É de irritar, sabia?
            - Fica feia aí, sobre a colcha.
            - A colcha azul perfeitamente estendida, sem vincos! - fala enquanto abre a gaveta, pega a toalha, joga nas costas e dirige-se ao banheiro. Homero puxa e retoma a toalha, a recoloca dobrada  sobre a cama sem ser impedido a tempo.  “Pronto! no mesmo lugar!”
            - Mas que prática! você poderia ser camareira, meu bem! dê-me aqui, disse, pegando novamente a toalha e entrando rápido no chuveiro, não sem antes virar o pescoço para trás, à esquerda, com os olhos mais aquosos, mais vivos do que nunca:
- Seu perfeccionista de uma figa!!
            Conhecia Homero há dois anos, todavia sabia tão pouco.
            Este se sentou à cama macia, cabeça solta entre as grandes mãos em concha, cotovelos nas pernas retesadas. A torrada intacta. Tinha de estar intacta. Viu-se menino, o pai sentado à mesa; ele ao seu lado, consertando a torrada partida ao passar geleia de amora. - Perdem-se os restolhos e fica torta, feia, fedelho! Perdem-se os restolhos e fica torta, feia! O menino comeu rapidamente os pedaços, temendo que a segunda torrada quebrasse enfiou-a na boca em dois bocados sem a geleia.  Assim eram todas as manhãs e ao chá da tarde. A mãe provavelmente não aprovasse a atitude do pai... Olhou ela de canto para o filho, encostada na porta da copa, tão leve, tão mansinha que parecia invisível a si mesma. Assim era mamãe, murmurou Homero.          
- O que disse, querido? saindo do banheiro, retirando os últimos pingos  de seu peito de pelos salientes. Põe a camisa azul de cetim e calça clara que delineavam bem o belo corpo, aguarda uma resposta em vão. Homero silenciara como sempre, levanta-se, vai à cozinha do apartamento, convida:
            - Vamos tomar um café, Afonso?
            - Pode ser. - Ajeita o cabelo ao espelho "ainda estou bonito"! Vivia com Homero há alguns meses. Apreciava o seu jeito diferente. Acariciou o cabelo de Homero  sentando-se na banqueta à mesa. Beliscou alguns biscoitos e um pedaço de bolo de laranja que fizera no dia anterior.
 - Muito bom o seu café! - Tomou-o aos goles, olhou para Homero, que, distraidamente procurava juntar as três partes da bolacha salgada que se quebrara, no pratinho azul à frente.
            -Quer que o ajude? diz Afonso, levantando-se embaraçado. -Vou fazer um ovo mexido!! - Pega o ovo, mira a pia para quebrá-lo, mas sustém o próprio braço que se erguia, impedido por um grito:
- Nãoo!! Cuidado! Não o bata, vai estragar a casca! É melhor cozinhá-lo.
Afonso, amuado e sem entender quase nada, larga-o lentamente na pia, dentro de uma xícara sem cabo, vai ao quarto, deita-se a meditar e refrescar as ideias que insistiam em voltar. Aquilo não dava mais, era vingança ou neurose? Seu companheiro jamais expunha seus sentimentos, exceto em pequenos gestos. Olhou a mochila - sua mala fora emprestada - fechou os olhos, enquanto Homero se aproximava com uma suave manta desdobrando-a bem esticadinha, cobriu o corpo de Afonso, como a de um menino.