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domingo, 22 de dezembro de 2013


 
Amigos e amigas, conhecidos ou quase conhecidos, desejo-lhes um natal de paz e um 2014 com fraternidade e faço minhas as intenções desta oração para vocês, que confesso eu, gostaria que esse meu sonho se realizasse, é um dos poucos sonhos que me falta realizar.
                                                Oração da manhã


"Senhor, no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-Te força, sabedoria, paz. Quero olhar hoje o mundo com olhos cheios de amor; ser paciente, compreensivo, justo, equilibrado; quero ver, além das aparências, Teus filhos, como Tu os vês, e assim só ver o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda a calúnia, guarda minha língua de toda a maldade. Que só de concórdia viva o meu espírito. Seja eu tão bom e alegre que todos quantos se achegarem a mim sintam a Tua presença. Reveste-me interiormente de Tua beleza, Senhor, e no decurso deste dia eu Te revele a todos. Amém."


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

 
 
 
CONVITE ESPECIAL A TODOS VOCÊS, POETAS E AMANTES DA LITERATURA
Lançamento do livro ATEMPORAL, de Luzia Stocco
 


Ponto de Cultura Arte Garapa
(Rua D Pedro II, 1313, centro, Piracicaba, atrás do Varejão)

Dia 13/12/13

20h

Noite de autógrafo e show Os Silva cantam Roberto (contemplado pelo Fac) e com declamações de poemas; os livros serão doados, pois também contemplado pelo FAC 2013. Obrigada.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

                         Uma partinha de meu livro "VALENTINE, criando amor a terra"

(...)
Ah! Esqueci-me de lhe contar um segredo: Valentine fala com os animais.

Que animal?!? Qualquer animal! Ela não tem preconceitos. Outro dia, ao escurecer, flagrei-a interrogando um tatu. Isso mesmo, um tatu macho. Macho e marrom. Nem pequeno, nem grande, com sua dura carapaça sobre as costas e as patas enrugadas. 

- Por que você não fala comigo, seu Tatu? Não me olhe com essa cara, pois pelo seu jeito e tamanho sei que é macho. Queria tanto saber onde mora...

Coitado! Valentine o enchia de perguntas.

- Que língua você fala? O Tatu nada respondia, só a olhava com aquela cara de tatu.

Ahá!! Agora é a vez dos peixes lambaris. Ela fala com eles numa boa, mas a partir daí começou a se incomodar por não ouvi-los.

- Como faço para me comunicar com vocês? Pergunta Valentine, encostando a mão em um deles sob a cristalina água.

 Sabe, aqui no sítio onde moramos, no bairro Chicó, a água está sempre limpa. Os  peixes nadam correndo de lá prá cá; parece o pega-pega que costumamos brincar às vezes eu e minhas irmãs.

É que eu tenho outra irmã, ela tem três anos e chama-se Vânia. Você vai conhecê-la já, já.

Outra coisa que me esqueci de contar é a minha idade. Lá vai, hein: tenho seis anos e meio. Não vou lhe contar mais detalhes pois quero propor a você uma brincadeira; quero que  imagine como eu sou, com a sua imaginação de criança; e  imagine também como seria a Valentine e a Vânia, se um dia você se encontrar com elas... Tudo bem?

- Amadeus, você escutou algo vindo daquela lambarizinha ali?

         - Eu não! Talvez seja o Nheco que veio roçar o mato.

Nheco é um ajudante de minha família. Ele faz de tudo um pouco, cuida da horta, do pomar e da venda dos produtos na cidade. Meus pais cultivam verduras, legumes e frutas orgânicas.

 - Ô, Valentine, o que é mesmo orgânico? Perguntei enquanto eu saía da água; vi meus dedos dos pés meio amortecidos e enrugados como as patas do tatu, agachei pra ver uns caramujos no barranco.

         - Ai, Dequinha! - Dequinha é meu apelido, chamo-me Amadeus, mas lá na escola rural estou aprendendo a escrever a letra D também, D de Dequinha, além do A de Amadeus, sabe! Isso é legal, né?- E aí Valentine continuou: - Já lhe expliquei, produtos orgânicos são aqueles que ninguém coloca agrotóxico, é tudo puro.

- Nem adubo pode colocar?
...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

             Uma partinha do meu livro O Salto das Estrelas, para vocês saborearem e, se for o caso, pedirem mais!

Mas nem tudo ia bem, alguma coisa nos incomodava, principalmente quando a Lua estava redonda, bem cheia! Aí morava o perigo: algumas estrelas, mais sensíveis, sentiam-se prejudicadas pela forte claridade que a Lua emitia.
 Diziam, “esse brilho machuca nossos olhinhos, ficamos atordoadas e não conseguimos dormir!”.  Já outras, resmungavam, em coro:
- Uf! Nem podemos repousar! É claro demais!! Nossas filhinhas ficam a chorar, manhosinhas que são. Manhosinhas que são... – Repetiam elas.
    - Mas, o que fazer? – Indagava a estrela Maior, chamada Gesânea Re. – Sempre foi assim, desde a época de nossas tataravós.
    - Não! As coisas mudaram por aqui, vovó, nos últimos tempos, sabe?!. – Manifestou outra simpática estrela. – O clarão da amiga Lua está mais forte que antes. E nem me olhem assim, pois eu não sei o porquê!
Houve vários debates, com trocas de ideias entre as jovens, entre as mais velhas com sua experiência e sabedoria e até sugestões entre as estrelinhas.
Então, o seguinte plano foi aprovado:
“Faremos uma escada e chegaremos perto da Lua; aí, juntas, a rodearemos, com muitas, muitas de nós encobrindo sua forte luz.
Enquanto uma turma dorme a outra turma fica trabalhando nesta tarefa. Podemos fazer várias turmas e vamos trocando durante as noites, na semana em que ela estiver cheia”.
       - Plin, plin! (que significa ai, ai, na nossa língua) – Dete Ro! eu não posso ajudar, plin, sinto muito sono por que brinco o dia todo sem parar! – Exclamou, com toda a sinceridade, uma minúscula estrela de nome Audinha.
    - Calma, Audinha! Tem muita estrela grande pra ajudar. Pode relaxar! –Falou a estrela Maior, Gesânea Re, que também adorava rimar.
E lá fomos nós, colocar o plano em prática! A bola, ou seja, a Lua, estava quase se completando.
Esticamos nossos corpos estelares, fomos avançando para cima, encostando-nos umas às outras.
Um espetáculo maravilhoso, juntinhas, as estrelas aos milhares, piscavam e cantavam, em harmonia.
“Que gostosa aventura, aqui no mais alto a saltar, eu e vocês vamos trabalhar láaa laalalá lálá...
...Um passinho aqui, um pezinho lá, gosto de cantar e de dançar, tralalalá! Calcanhar e pontas, juntos outra vez! - Até logo! Olá, muito prazer, muito prazeerrrrr!!” Íamos rodando lentamente, em meia-volta, numa alegre coreografia, virávamos e cumprimentávamos.
                A Lua, calada e tímida, sorriu! Um sorriso largo e redondo contagiou a todas nós, que nunca tínhamos estado tão perto dela.

Até parece festa da terra, quando os humanos acendem suas lâmpadas ou velas.
                           Porém, tudo parecia tão simples e foi se complicando. Não houve a escuridão desejada!
 As estrelas dessa história que estou a lhes contar não pensaram que, unindo suas luzes, mais forte elas ficariam.
Aliás, elas nem sabiam que possuíam tanta luz, não conheciam o próprio brilho, nem eu!!
Assim como você que agora lê esta página possui um maravilhoso brilho, sabia?!!!!
...(continua)

 

terça-feira, 3 de setembro de 2013


 

Breve comentário sobre as andanças do Andaime...



 Acabo de ler o livro Andaime – Um Jeito de Ser, escrito pelo doutor em História Social e Mestre em Teatro, Alexandre Mate, com uma rica abordagem sobre a trajetória dos 25 anos do premiado Grupo Andaime de Teatro Unimep, lançado recentemente.  O livro contém, relatos dos integrantes do Grupo, dos diretores e autores, cartas, comentários sobre os onze espetáculos encenados e algumas cenas, entrevistas aos heróis que, em 1986, fundaram o Grupo - Antonio Chapéu e Carlos Jerônimo. Faço, então, um feedback de minha morada no grupo por mais de 10 anos. Não esqueço os bonecos do Elias, recriados na Itália, com maestria do nosso diretor, Carlos ABC, em 1999. Lá, o público recebeu o programa “Dove il Pesce si Ferma”. Ao término do espetáculo só se ouvia “Bravo! Bravo!” acompanhados por intermináveis palmas, vindas dos corpos em pé, como jamais visto, por cerca de 8 minutos. Aquela sensação ficaria registrada eternamente na memória de cada um. Seguiu-se um debate “pela plástica teatrale, scenne, capiamo tuto!!”, diziam. Depois chuparam cana - algo jamais visto por eles, nesta região fria- que as meninas iam descascando e repartindo em minúsculos pedaços, sobras da cena de “cuspir cana”, das irmãs Dora e Deleise (Luzia e Vania), “humm, é doce!!”.


O grupo pesquisou a emigração trentina do final do século XIX, nas cidades de Cortezano, Meano e Romagnano, com uma média de 600 habitantes. O objetivo? Acumular material para a próxima montagem do grupo, cujo tema ainda estava amadurecendo. Nestes vilarejos não havia escolas nem crianças. Predominavam os idosos e os cães. Deste último, um ou dois em cada casa.  Encontrou-se em ruínas a antiga residência de Bortollo Vitti, o primeiro italiano tirolês a chegar à Piracicaba, em 1977. Em duplas, entrevistamos alguns moradores. Mãe e filho receberam a mim e à Vânia com uma mesa farta de queijos, vinho, pães diversos, água e outros frios. Admiramo-nos com o grau de confiança demonstrada na calorosa cordialidade. Com dificuldade, mas com um enorme desejo de comunicação, conversamos. Tal foi a alegria do senhor ao diagnosticar que determinada frase ele finalmente entendera, após minutos de tentativas, que gritou em êxtase:  - Capito!! Io capito! -Rimos todos.



“Lugar onde o PEIXE para”, estreado em 1996, apresentado durante mais de 12 anos, a intenção do grupo era enfocar a historicidade do ser humano, em seus costumes, suas raízes e memória; deu-se destaque ao universo caipira na reconstrução de sua identidade. Assim surgem personagens como a Nossa Senhora dos Prazeres que fez “banana” pra cidade, a Cobrona, a Moça do Rio, a Inhala Seca. Destacam-se as brincadeiras, que inté minha filha Polyana, na época com nove anos, participou; a Festa do Divino com a catira, a congada e o cururu; o corte de cana, os conflitos da sexualidade na adolescência, as crendices, tendo como fio condutor a lenda do Rio. O jargão tão conhecido pelo Brasil afora “São as deliciosas pamonhas! pamonhas de Pi-racicaba...!”repetido por Denirso (Paulo Farias). Adeus Dora, adeus Francesca, festeiro do divino, beata, cortadora de cana, viajante... Até um dia, Irma (uma das 3 Graças). Parabéns a todos vocês e outros personagens que por mim passaram, levaram um pouco de mim e, um pouco para mim deixaram. Meus amigos e minha mãe Auda, senhora dos figurinos e cenários.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013


Mais um texto da "História do Grupo Andaime de Teatro Unimep contada em brilhante livro"

Andaime – Um Jeito de Ser, escrito pelo doutor em História Social e Mestre em Teatro, Alexandre Mate. Lembro-me, agora, de passagens peculiares de nossa trajetória, do espetáculo Nonoberto Nonemorto: a nona Daniela, hoje na Itália, depois a nona Priscila, que maravilha! o nonoberto querido Chapéu, que enganava e convencia o público, sentado na plateia, já no começo do espetáculo! Da coxia, lágrimas eu derramava em toda apresentação. Carmem, Anselmo, Jerônimo, Fabio, Netinho e Netão! Jorge, Maria, Andrea e Brandão. Nelma, Bruno, Simone, Abegão, Marina H., Gabriela, Paulo, uma família! Como o “Peixe”, muitas viagens, prêmios, crítica aprimorada.

O processo da montagem, estreada em 2000 e apresentada por quatro anos, também foi de muito suor, risos e lágrimas. Os temas, profundamente pesquisados, deram continuidade à linha de estudo do Grupo. Diretor Francisco Medeiro, dramaturgo Luis Alberto de Abreu. Medina cenógrafo, Altafini a trilha sonora, Heise a iluminação, Jânea a dir. musical e Péricles assistente.

Improvisações rolavam em abundância. Valiosas discussões referentes à mitologia, aos rituais de transição. –É exatamente aí, no ápice do cansaço, que vocês irão criar com sabedoria, insistia o diretor. Montem aquilo que lhes toca profundo, aquilo que é mais relevante para a história de cada um. Olhe para o passado e revisite a sua identidade. Esse é o âmago da questão! Tragam encenado o sonho de cada um. Faremos a apresentação da cena e depois a revisitarão para retirar a sujeira, deixá-la mais clara e saborosa. -Apareci com meu sonho datilografado num pedaço de folha: “- o sonho da moça-mulher é poder viver num lugar onde houvesse justiça e igualdade social, meu sonho é conviver melhor comigo mesma, tendo calma, ser compreensiva, ajudar as pessoas de várias maneiras”.

 Paralelamente, os atores debruçaram-se sobre os dois bairros rurais de origem trentina, em Piracicaba, que após a conclusão do texto ficou sendo Santanaolímpia. Entrevistamos moradores mais antigos. Participamos da festa da Cucanha, desde a coleta dos materiais para o cozimento até o final, com direito a banho de lama.  “-Para escapar do desconhecido cria-se o mito, uma narrativa. O mito é onde moram os arquétipos. -Zia Maria dizia “Ter filhos quer dizer 9 meses de doença e tutta la vita de convalescência”.

 Cenas escritas, gravadas iam ao dramaturgo que voltava com um roteiro, resultado da criação coletiva: “... não é só as agruras e heroísmo das massas imigratórias e migratórias que constituem o Brasil, mas ganha contornos simbólicos e torna-se emblema da busca, da ânsia que agita a alma humana em pôr-se em movimento e buscar um lugar diferente de todos já conhecidos e experimentados...onde corre o leite e o mel...lugares míticos que estimulam a imaginação do ser humano, desde os tempos primitivos até os dias de hoje”.

Numa cena o personagem Nonoberto diz:-“Nossos pais saíram do Tirol e construíram Santanolimpia. Se ela acabar, se a gente quiser, fazemos outra. Acho que nossa comunidade não é essa terra, nem o dialeto, nem mesmo o Tirol. É coisa que não sei o que é, mas que está riscado lá dentro, e vai aonde a gente for.” Sou muito grata pela oportunidade de participar desse espetáculo, assim como do “Peixe”. Entrei no grupo Cochichonacoxia da Unimep em 1989 e no Andaime em 96.
(public. A Gazeta)
 

 

“Andaime – Um Jeito de Ser”  - Livro   25 anos de um  grupo de teatro

 Acabo de ler o livro Andaime – Um Jeito de Ser, escrito pelo doutor em História Social e Mestre em Teatro, Alexandre Mate, com uma rica abordagem sobre a trajetória dos 25 anos do premiado Grupo Andaime de Teatro Unimep, lançado recentemente.  O livro contém, relatos dos integrantes do Grupo, dos diretores e autores, cartas, comentários sobre os onze espetáculos encenados e algumas cenas, entrevistas aos heróis que, em 1986, fundaram o Grupo - Antonio Chapéu e Carlos Jerônimo. Faço, então, um feedback de minha morada no grupo por mais de 10 anos. Não esqueço os bonecos do Elias, recriados na Itália, com maestria do nosso diretor, Carlos ABC, em 1999. Lá, o público recebeu o programa “Dove il Pesce si Ferma”. Ao término do espetáculo só se ouvia “Bravo! Bravo!” acompanhados por intermináveis palmas, vindas dos corpos em pé, como jamais visto, por cerca de 8 minutos. Aquela sensação ficaria registrada eternamente na memória de cada um. Seguiu-se um debate “pela plástica teatrale, scenne, capiamo tuto!!”, diziam. Depois chuparam cana - algo jamais visto por eles, nesta região fria- que as meninas iam descascando e repartindo em minúsculos pedaços, sobras da cena de “cuspir cana”, das irmãs Dora e Deleise (Luzia e Vania), “humm, é doce!!”.

O grupo pesquisou a emigração trentina do final do século XIX, nas cidades de Cortezano, Meano e Romagnano, com uma média de 600 habitantes. O objetivo? Acumular material para a próxima montagem do grupo, cujo tema ainda estava amadurecendo. Nestes vilarejos não havia escolas nem crianças. Predominavam os idosos e os cães. Deste último, um ou dois em cada casa.  Encontrou-se em ruínas a antiga residência de Bortollo Vitti, o primeiro italiano tirolês a chegar à Piracicaba, em 1977. Em duplas, entrevistamos alguns moradores. Mãe e filho receberam a mim e à Vânia com uma mesa farta de queijos, vinho, pães diversos, água e outros frios. Admiramo-nos com o grau de confiança demonstrada na calorosa cordialidade. Com dificuldade, mas com um enorme desejo de comunicação, conversamos. Tal foi a alegria do senhor ao diagnosticar que determinada frase ele finalmente entendera, após minutos de tentativas, que gritou em êxtase:  - Capito!! Io capito! -Rimos todos.

“Lugar onde o PEIXE para”, estreado em 1996, apresentado durante mais de 12 anos, a intenção do grupo era enfocar a historicidade do ser humano, em seus costumes, suas raízes e memória; deu-se destaque ao universo caipira na reconstrução de sua identidade. Assim surgem personagens como a Nossa Senhora dos Prazeres que fez “banana” pra cidade, a Cobrona, a Moça do Rio, a Inhala Seca. Destacam-se as brincadeiras, que inté minha filha Polyana, na época com nove anos, participou; a Festa do Divino com a catira, a congada e o cururu; o corte de cana, os conflitos da sexualidade na adolescência, as crendices, tendo como fio condutor a lenda do Rio. O jargão tão conhecido pelo Brasil afora “São as deliciosas pamonhas! pamonhas de Pi-racicaba...!”repetido por Denirso (Paulo Farias). Adeus Dora, adeus Francesca, festeiro do divino, beata, cortadora de cana, viajante... Até um dia, Irma (uma das 3 Graças). Parabéns a todos vocês e outros personagens que por mim passaram, levaram um pouco de mim e, um pouco para mim deixaram. Meus amigos e minha mãe Auda, senhora dos figurinos e cenários.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Livro  25 anos do grupo de teatro “Andaime – Um Jeito de Ser”
 
Acabo de ler o livro Andaime – Um Jeito de Ser, escrito pelo doutor em História Social e Mestre em Teatro,  Alexandre Mate, com uma rica abordagem sobre a trajetória de 25 anos do premiado Grupo Andaime de Teatro Unimep, lançado recentemente numa festa a Dionísio - encontro histórico entre atores, atrizes, diretores, dramaturgos, equipe técnica, familiares e amigos.  O livro contém belas fotos, relatos dos integrantes do Grupo, dos diretores e autores, cartas, comentários sobre os onze espetáculos encenados intercalados com algumas cenas, entrevistas aos heróis que, em 1986, fundaram o Grupo - Antonio Chapéu e Carlos Jerônimo - e seus depoimentos sobre as aventuras e desventuras dos participantes, os acertos e erros e alguns detalhes quase desconhecidos da maioria, relatório crítico de consagrados jurados nos muitos festivais, críticas jornalísticas e reflexões, e assim, o autor vai amarrando a nossa história e contextualizando a época política e cultural.  Como bem lembra Mate, nos versos de Brecht “Tantas histórias. Tantas perguntas”.     
 
 
                                                 
Quantos palcos pisados, improvisados ou sofisticados! Palcos em que mal cabia parte dos atores em cena (a cena da viagem, no espetáculo Nonoberto Nonemorto, por exemplo, ou o rio no Lugar onde o peixe para). Deliciosa alegria de encenarmos para plateia efusiva e lotada ou, meia dúzia de gato pingado. Em frente à igreja, na praça de Santa Olímpia, quanta emoção. Ouvir os gritos de “Bravo! bravo! bravo!” durante quase 10 minutos, em Trento, Itália, em maio de 1999. Ahh! guardo na memória aquelas pessoas em fila para experimentar um taco de cana “hummmm, é doce!!”, diziam, surpresos e alegres. E quem poderia imaginar que aquela caipirinha saída do mato e portadora ainda de tantas caipirices, um dia viajaria para a Itália em evento cultural?! (extraído do livro A Menina do Bairro Fria, romance autobiográfico). Ou, no Teatro Municipal de Piracicaba, na Unimep ou no Sesc recebendo os abraços de nossos familiares e amigos com os olhos aquosos. Vieram muitos prêmios e reconhecimento.
As músicas cantaroladas durante as viagens. As festas, a comemoração da vida! A euforia, as ansiedades e neuroses de cada um divididas com o grupo. Os reikis que eu aplicava, as massagens nas costas dum, no pé doutro.

                                    
                           
Subir e descer escadas e mais escadas carregando cana, mesas, barco, de madrugada, e entrando às 7h na escola para lecionar, ufa! Todas as tardes de domingo, muitos e muitos domingos, durante muitos anos!! longe da família, quanta correria. Dez horas de ensaio, com um intervalo de 10 minutos no mês que antecedia à estreia, às sextas, sábados e domingos e feriados nas madrugadas. O suor escorrendo após horas de exercício e caminhada pela sala de ensaio, num ritmo alucinante. “É aí que se cria! Vamos, hospital geriátrico!”, dizia o diretor Francisco Medeiros, durante a montagem de Nonoberto Nonemorto; transcende, acende, “põe fogo no rabo, minha gente, vamossss!!” dizia ele, frequentemente. O piso do chão mantinha-se úmido pela sudorese, que teimava em cair dos corpos mui aquecidos.  O mítico, o multidimensional, a dor, o prazer e acolhidos no grupo só tínhamos a crescer.
 O trabalho de pesquisar, entrevistar, ler, imaginar, escrever as cenas e interpretar, seja só, em dupla ou grupo. “Nossa! Quem é aquela mulher, com aquele vestidinho preto, sobre o salto, que imponência, misto de nobreza com sabedoria?!” lembro-me do Chiquinho Medeiros anotando isso em sua grande agenda, referindo-se à improvisação de minha viajante, e, depois compartilhando com o grupo observações de cada ator e atriz em cena, na fase de elaboração da dramaturgia. Lembro da cordialidade, da criação e da sensibilidade do Abreu, homem-anjo, inspirador.
 
 “Ma injua, no”, diziam as Três Graças, a minha graça chamada Irma, retraída porém  esperta, queria ser bailarina, com seu sapatinho especial dançava e cantava com a sombrinha. Que saudades da Graça Simone e da Graça Marina; depois vieram as Graças Gabi e a Graça Nelma. Esqueci-me de alguma? Perdoem-me a memória frágil. Como posso omitir a mulher que viajava no Nonoberto Nonemorto em toda apresentação? quantas cidades ela viajou, com sua mesma e única mala de madeira (peguei de meu falecido pai), levava arame, uma bacia de alumínio pregada na mala e uma escumadeira, de madeira! Um livro “Como escrever cartas”, uma pedra da Itália - terra natal -, uma foto. Da coxia, lágrimas eu derramava em toda apresentação. E o “sofrimento” para cantar dona nobis e depois as gostosuras das músicas italianas, quando aprendemos... será que aprendemos, Jânea??  E o canto do rio, então!! Ô dureza de afinação...
 “Xii, nem certô!”   “– Eu guspo di novo”, as irmãs Dora e Deleise, minha amiga irmã Vânia, que agora é mãe de dois, quanta diversão, trabalho, estudo e conquistas... na hora de acordar as duas bocejavam, ela queria minha boneca de sabugo de milho, pois a dela se perdera “enfia um pauzinho no cú do diabo que ocê acha!” “dispois num isqueci de tirá sinão o diabo vem e pega ocê, viu!”  Ou,  a mãe Romirda (Alice, Simone, Ercília) na hora do desespero pelo sumiço do filho Denirso ( Péricles, Paulinho) e o severo pai  Nerso (Jorge): “o que foi que ele falô, desimbuche logo!”,  a ingenuidade de Dora: “ele falô ansim que eu tenho miolo mole.” O turco que come criança (Jerônimo). Os nossos cantadores Chapéu e Jê  do espetáculo Lugar onde o Peixe Para. “Eita nóisssss!!” Como era bom interpretar o festeiro com a timba, o assobio e o remo, aquele parecido com meu pai. Inté minha filha Polyana, na época com nove anos, participou nas brincadeiras das crianças, do Peixe, do grandioso Carlos Abc, que, sensível e incrível, punha todo mundo na procissão de entrada do Divino: fosse motorista do ônibus, um ajudante, marido, namorado, um estranho ou um irmão, ninguém escapava, ah, não!! Não esqueço os bonecos do Elias improvisados, recriados na Itália por ele. Também tiro o chapéu para o Chapéu, a força de sua enigmática liderança, sua ousadia e sensibilidade.
 
 
Meu Deus!! Os figurinos e cenários que minha mãe, saudosa Auda, fez e refez com perfeição. A rotunda redonda do Nonoberto pegava nossa casa e o quintal inteiro, em comprimento, éramos 4 ou mais para puxá-la.
Simone Cintra, uma das lideranças fundamental na organização e fortalecimento do grupo, com muito sucesso, aborda em sua pesquisa de mestrado e doutorado, Unicamp, o processo de montagem de Nonoberto.           
 Escolhi alguns, dentre muitos relatos preciosos inseridos no livro:  Luis Alberto de Abreu “...Não fosse pela alta qualidade dos seus espetáculos, não fosse pela excelente receptividade do público e mesmo se não fosse pela seriedade e continuidade de uma longa pesquisa voltada ao seu próprio território, mas com o foco direcionado ao que o ser humano tem de mais universal e permanente, mesmo assim o Grupo Andaime teria seu lugar reservado na recente história do teatro paulista: foi um grupo de pessoas que sonharam criar e consolidaram sua criação fora do eixo dos grandes centros de acesso à produção cultural. E o fizeram com conteúdo e qualidade”.
Paulo Faria: “...as discussões, os choros, os risos, os abraços de conforto, o frio na barriga antes de cada apresentação, o grito de guerra, os prêmios, as frustrações(...)Mas ter o grupo Andaime como família é fácil de explicar. Uma família bem estruturada é capaz de construir a base forte de seus filhos que sempre vão passando para as próximas gerações. Senti exatamente isso. Muito do que sou como homem, profissional da arte, etc, vem da estrutura adquirida no grupo Andaime”.
 

Fechando o livro com chave de ouro, há um caloroso depoimento da atriz Daniela Scarpari (a Moça do Rio e a Nonna) que reside na Itália e lá constituiu nova família, seus filhos italianinhos-brasileirinhos: “(...)como um mago ele (Abreu) me ajudou a entender a minha própria condição em terra estranha: “minha terra são meus filhos!” “a nossa comunidade não é essa terra, é algo que é riscado dentro e vai com a gente aonde a gente for!”. Se não fosse pela minha experiência no Andaime, se não fosse por Lugar onde o Peixe Para e se não fosse por Nonoberto Nonemorto, a minha vida de piracicabana na Itália seria muito mais difícil...Com eles aprendi quem eu sou e de onde venho e o mais importante o que eu levo comigo!”
Agradeço e parabenizo a todos os atores e atrizes que compartilharam essa coisa chamada grupo, se a vida diária não nos aproxima, a arte, sim, poderá fazê-lo.
Agora, levantem os andaimes e vamos à (re)construção, pois aquilo que é essencial aos olhos e à alma, nunca morre! Transcende!           
(Publicado no Jornal A Tribuna Piracicabana - 24/25 de julho 2013)
 

quinta-feira, 25 de julho de 2013


“O que estou lendo”, comentários sobre o livro ALÉM DA NOTÍCIA, de NIVA MIGUEL (publicado no Prosa e Verso, Jornal A Tribuna Piracicabana, julho 2012).

Acabei de ler o livro do piracicabano Niva Miguel Além da Notícia e confesso, ri bastante e emocionei-me também. Eis aí um ponto crucial para que eu admire uma obra: o quanto sou tocada por ela!

Com prefácio de Elias Boaventura, projeto gráfico de Emílio Moretti, editado em 2011 por Sulminas Gráfica e Editora, 168 páginas, o escritor, jornalista, professor (mestre e doutor) Oswaldo Miguel (o Niva) tem uma trajetória de vida muito peculiar e rica de detalhes. De menino pobre e vida sofrida na infância, estudou, lutou, se atreveu e venceu. Toda a sabedoria transparece no humor das crônicas, na ousadia de vivenciar cada situação para dar mais vida à sua reportagem, desafiando o medo e o desconhecido para ficar juntinho dos entrevistados, sentir na pele e em todo o corpo o dia a dia dos anônimos, provando que eles também fazem história; os sonhos e a sensibilidade das pessoas mesmo em condições críticas como a experiência de dormir junto aos moradores de rua e compartilhar a comida, o chão e as amarguras, sentindo o que é ser ignorado e invisível (gostei muito dessa reportagem). Algumas das aventuras de Niva: peregrinar até Pirapora; saltar de paraquedas; acompanhar a patrulha; voar num trapézio; ser coveiro, servente de pedreiro e outras crônicas além da notícia que, creiam, são incríveis! Humilde e sem arrogância, Niva confessa seus receios, suas fragilidades e furos diante de certos desafios e deixa fluir a emoção, o que torna as reportagens muito vívidas e instigantes aos leitores. No capítulo “Meu Deus, que sufoco!” quando acompanhou ciclistas de Piracicaba à Limeira, gargalhei muito com os comentários que ele vai tecendo, falando a si mesmo de forma tão espontânea ...quando saí da garagem todo animado empurrando o “dinossauro” morri de vergonha. Ele estava todo equipado, com uma bicicleta que mais parecia uma “Mercedes...Nessa subida, Carlos Iwamoto, 22, o Japonês, também resolveu dar uma força e começou a me empurrar. Que mico! Agora tinha um de cada lado” (p 73).

“Versátil, o autor afirma estilo próprio de realidade e ficção. Seres desfilam em sua reportagem onde a notícia é a própria vida”, afirma Emílio Moretti.

Ah, e obrigada, Niva, pelas dicas das músicas que você ia ouvindo nas viagens de Piracicaba a Assis, onde leciona, pesquisarei algumas delas pois me geraram curiosidade. Faltou aquela reportagem que você fez quando acompanhou a procissão no personagem de festeiro ao lado do meu personagem marinheiro, do Chapéu, do Carlos ABC e toda a turma na peça “Lugar onde o Peixe Para”, do Grupo Andaime de Teatro Unimep, que está completando 25 anos, tenho as fotos guardadas e a sua visão dos bastidores. Alegro-me por ver aquele amigo curioso e competente, hoje também escritor e ainda humano. Abraço.

 


 

 

segunda-feira, 15 de julho de 2013


Domingo, dia 30 de junho, no Teatro Unimep Piracicaba, houve o lançamento do livro “Andaime, um jeito de ser”, escrito por Alexandre Mate, sobre os 25 anos de história do Grupo Andaime de Teatro Unimep, do qual fiz parte por mais de 10 anos. Abaixo, um excerto do livro, uma cena do espetáculo Nonoberto Nonemorto, dramaturgia de Luis Alberto Abreu e direção Francisco Medeiros. Aproveito para agradecer aos atores e atrizes, cenógrafos, diretores e dramaturgos com os quais convivi e muito aprendi, minha outra família. Também àqueles que nos acompanharam em toda nossa trajetória, assistindo às peças, comentando.

........

Cena 3, “La nonna”, mostra, de modo próximo ao cômico - o texto tem estrutura épica -, os devaneios de Nonoberto, onde tudo acontece e passa a ser possível por um trabalho de rememoração, mesmo confuso, mesmo não acontecido.
(...)

Nonoberto  - É Cortezano, então? Que faz? Você existe, mesmo? Que faz aí, no Tirol?

Homem (ri) – Que Tirol, nonno! Sou daqui mesmo, de Santanolímpia, nonno. Está viajando longe,  nas ideias, de novo,  hein?

Nonoberto (irritado) – Que “viajando?” Ma, some, laicon!

Homem –Não gosto que me chame de laicon.

Nonoberto (como criança) – Laicon, laicon, laicon, laicon!

Homem (paciente)- Quer que lhe leve para casa?

Nonoberto – Non precisa. Sei muito bem onde está minha casa! (para si) Só não sei como chego até lá.

Homem – Addio (...) Assim era Nonoberto, um velho já beirando os noventa anos, cheio de vida, mas quase vazio de cabeça, com muitas lembranças, mas todas meio disparatadas pela falta de controle da razão.  Um cérebro com teia de aranha, quase todo coberto pela poeira do tempo. (Nonoberto envia ao Homem um olhar irritado). Um cômico sem intenção, um homem que perdia a consciência do mundo. E o vinho ajudava bastante.

Nonoberto (...) Às vezes, via seres esquisitos, meio gente, meio animal, figuras estranhas, incoerentes, vindas sei lá de que mundo, (aponta para Nonna, que entra. É muito velha, curvada e carrega uma lamparina acesa) Ah, Dio mio! aquela, por exemplo. Parece uma coisa, uma figura saída de um pesadelo, uma alma condenada, um morador das profundezas do inferno de Dante! Vai embora! Volta pro inferno com os demônios e deixa a minha alma!

Nonna – Fecha a boca, velho doido! Sou eu!

Nonoberto  - Nonna? É? E esta vela? Parece alma do outro mundo!

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Um belo poema da Leda Coletti, do livro Brinca, Brinca e faz poesia


NINHO DE ROLINHA

 

A rolinha foi chegando,

devagar e sem ruído

com cada ramo puído,

belo ninho foi formando.

 

Espiando muito viva,

se alguém a observava,

ao parceiro que a ajudava

achegou-se apreensiva.

 

Bateu asas agitada,

novamente perscrutou

e, ao companheiro anunciou

que teceria a ninhada.

 

Depois, delicadamente

colocou fiapo de flor

quase seca e sem cor,

para o ninho então nascente.

 

Prestimosa e com carinho

terminou sua empreitada,

deitou nele sossegada,

botando então um ovinho.

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Poema de Madalena Tricânico, extraído do Livro BRINCA, BRINCA E FAZ POESIA


                            CENA TEATRAL

        

Os três gatos no teatro

Prontinhos para

Apresentar o

Primeiro ato.

 

De repente apaga a luz.

Onde foi parar o

Gato de botas?

_ “Deixa de brincadeira,

Só tenho chuteira”.

 

Olhos brilhando no escuro

Deveriam ser apenas seis,

Mas, são dezesseis.

Acende-se a luz:

São cinco bailarinas

De olhos azuis.