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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Jogo das frases afirmativas e negativas



Eu sou o rádio sem som                                    Eu sou o som do rádio



Eu sou a música  sem  ritmo                              Eu sou o ritmo da música





Eu sou o teatro sem aplausos                           Eu sou o aplauso do teatro





Eu sou a terra sem chuva                                  Eu sou a chuva da terra






Eu sou  a cor da arco- íris                             Eu sou o arco-íris sem cor






Eu sou o brinquedo da criança                    Eu sou a criança sem brinquedo






Eu sou a flor sem perfume               Eu sou o perfume da flor






Eu sou o sabor do doce                                 Eu sou o doce sem sabor





Eu sou a jóia sem brilho                                  Eu sou o brilho da jóia







Eu sou o palhaço sem sorriso                         Eu sou o sorriso do palhaço






Eu sou o mar sem ondas                                Eu sou as ondas do mar







Eu sou o sol sem calor                                  Eu sou o calor do sol           




Eu sou a vida sem ar                                    Eu sou o ar da vida



Eu sou a lua sem céu                                    Eu sou o céu da lua





Eu sou a planta sem raiz                              Eu sou a raiz da planta





Eu sou a abelha sem favo                            Eu sou o favo da abelha





Eu sou o rio sem peixes                             Eu sou os peixes do rio






Eu sou a vida sem afeto                           Eu sou o afeto da vida






Eu sou a dança sem música                     Eu sou a música da dança




Eu sou  o quadro sem pintor                   Eu sou o pintor do quadro                

         Ofereço algumas sugestões de frases opostas que fazem parte de uma gostosa brincadeira entre amigos e familiares. Ainda mais neste final de ano, ou em qualquer outra ocasião, é bem legal fazer esta brincadeira e para todas as idades. Algumas pessoas me pediram, eis as frases aqui. É só imprimir ou copiar manuscrito estas frases; depois as recorta; faz-se uma roda com os participantes, em pé, entrega uma frase para cada um. Começa lendo a frase quem quiser, mas sempre quem tiver a frase na negação; a pessoa lê em voz alta, a outra pessoa que estiver com a frase afirmativa lê em seguida, completando a frase do outro, vão ao centro da roda e dão um abraço afetuoso. E assim, prossegue até que todos tenham lido. Pode-se trocar os papéis e repetir a brincadeira; também é possível inventar outras frases interessantes. Não esquecer de separar os pares de frases de acordo com a quantidade de pessoas ali presentes, antes de começar a distribuir os papéis. Já fiz isso inúmeras vezes em situações distintas e sempre foi um suces! Boa sorte e divirta-se!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Pecados da carne

Lá vai mais um texto da Ivana Maria França de Negri. Uma pertinente reflexão sobre o Documentário A CARNE É FRACA. Entendo que todos nós deveríamos assistir a esse rico e abrangente material, assim como ao Doc. Terráqueos (quem quiser... eu os empresto!!)

A maneira como se criam os animais para consumo humano se equipara, ou até mesmo supera o horror do holocausto nazista. Quem assiste ao documentário “A carne é fraca”, do Instituto Nina Rosa - Projetos por amor à vida - se impressiona de tal maneira, que, se não virar vegetariano, pelo menos vai mudar alguns hábitos alimentares.
As pessoas, geralmente, não têm consciência do que colocam para o interior de seus corpos. Tudo o que comem passa a fazer parte de suas células, e de algum modo, se incorpora ao seu espírito. E nos tornamos aquilo que comemos. Quem come algo fruto de sofrimento e violência, terá de suportar o retorno, uma lei natural universal.
Desde o momento em que nasce até o dia em que será morto, o animal sofre todo o tipo de privação e crueldade. E também o meio ambiente fica seriamente comprometido.
Um dia a humanidade vai necessitar de toda a quantidade de grãos produzidos anualmente para engordar o gado. É uma questão de vida ou morte. Com o aumento desordenado da população mundial, não mais haverá espaço físico para criar gado, alimentá-lo e utilizar grandes quantidades de água - líquido raríssimo num futuro próximo.
A criação de vitelas é conhecida como um dos mais imorais e repulsivos mercados no mundo todo. Sua carne é muito apreciada por ser tenra, clara e macia. Por ser cara, provoca a ganância dos criadores. O que pouca gente sabe é que o “baby beef” vem de muito sofrimento do bezerro macho, que desde o primeiro dia de vida é afastado da mãe e trancado num compartimento sem espaço para se movimentar. Esse procedimento é para que o filhote não crie músculos e a carne se mantenha macia. Esse mercado nasceu como subproduto da indústria de laticínios que não aproveitava grande parte dos bezerros machos nascidos das vacas leiteiras.
Para produzirem o “bife de bebê”, além da imobilização total dos animais, é retirado todo o ferro da sua alimentação tornando-os anêmicos. A falta de ferro é tão sentida por eles, que nada no estábulo pode ser feito de metal ferruginoso, pois entram em desespero para lamber esse tipo de metal. Embora sejam animais com aversão natural à sujeira, a falta do mineral faz com que muitos comam seus próprios excrementos em busca de resíduos de ferro. Os produtores contornam o problema colocando os filhotes sobre um ripado de madeira, onde os dejetos caem num um piso de concreto ao qual os animais não têm acesso.
No processo de confinamento, os filhotes ficam completamente imobilizados, uma solução encontrada pelos criadores pelo fato de muitos filhotes pelo espaço reduzido que têm, se debatem criando úlceras. Ele podem apenas mexer a cabeça para comer e agachar, sem sequer conseguirem se deitar. Os bezerros são abatidos com mais ou menos 4 meses de vida - de uma vida de reclusão e sofrimento, sem nunca terem conhecido a luz do sol. Quando chega o momento do abate, estão tão fracos que vão carregados e já nem conseguem berrar ou andar. O depoimento de um magarefe é lacônico. Diz ele que procura não encarar o animal olho-no-olho e faz o “serviço” maquinalmente, pois é seu trabalho e precisa ganhar seu salário. Confessa que, se fixasse o olhar nos olhos do bezerrinho em tamanho padecimento, talvez não tivesse coragem de fazer o que faz.
Como não há no Brasil lei que proíba essa prática – como existe na Europa – o jeito é conscientizar as pessoas. Se souber o que está comendo, a sociedade que já não mais tolera violências, pode mudar alguns hábitos, não consumindo essa carne e escolhendo produtos, serviços e empresas que não tragam embutido o sofrimento de animais inocentes.
Segundo o antropólogo Lévi-Satruss, romper hábitos milenares é talvez a lição de sabedoria que um dia haveremos de aprender com as vacas loucas e as gripes aviárias.

Ivana Maria França de Negri é escritora e vegetariana

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Na Escola da Usina Costa Pinto - Infância

Certo dia, ao término das aulas, na hora do almoço, dezenas de alunos corriam afobados no calçadão das casas da colônia, próximo à escola. O que teria acontecido?
- Ai! Alguém acode a gente......
- Fuja, Elaininha! Tem um bicho quela!!
- Ana Maria! Helena! Chama sua mãe pra ajudar a gente. Ela tá com uma mangava!
-Socorroooo!!! Gritavam todos, deixando chinelos, cadernos e estojos para trás.
Durante dois dias esta cena se repetiu, mas no terceiro dia....
-Ocê pare de assustá minhas primas com esse bicho centopéia aí na sua mão, senão eu cato ocê e te dou uma surra. Oie aqui! Eu não tenho medo desse bichinho, não, viu?
Era a voz enrouquecida de Silvana, menina troncuda, pescoço e cabelos bem curtos, três vezes mais forte que Luzia, que a suspendera pelo colarinho do uniforme.
Luzia entrou em pânico ao ser contida em suas travessuras de forma tão abrupta. Meneou um sim com a cabeça.
-Ela é louca! - Gritou outra coleguinha.–Vamos embora antes que resolva catar outro gafanhoto pra joga ne nóis.
-Enganei uns bobo na casca do ovo!!! – Fala, de longe.
Luzia deu no pé. “Sou louca sim, mas de raiva da frescura e da chatice de ocêis, e não é gafanhoto, nem “trenzinho”, é só um bisorro, suas tantã”, pensou a vilã assustada. Nunca mais cogitou tais brincadeiras. Não comentou nada com ninguém em casa, porém ria sozinha lembrando-se da cara dos bocó de mola.
Às vezes, no caminho de volta para casa, juntavam-se seu vizinho Nado, Ana -a irmã dele-, outra vizinha, Ismeire e sua irmã Ivete. Inventavam de atirar pedra numa colméia, para ver se alguém bobeava e acabava sendo picado. Outras ocasiões, brigavam e ficavam de mal por alguns dias ou algumas horas. Certa feita, depois de um dia chuvoso, quando o lodo ficava acumulado nas fendas da estrada, Ismeire, a mais danadinha, jogou um pé do chinelo de Luzia no barranco de barro vermelho. A menina desceu até lá, recuperou o calçado e tendo retornado à estrada deu um tapa nas costas da “amiga”, deixando as marcas perfeitas de sua mão enlameada. Temendo revelia, Luzia disparou a correr durante mais de dez minutos, sem olhar para trás, segurando o chinelinho amarelo. Não gostava de brigas, mas a outra não tinha limites para provocação.
Enquanto corria, gritava para seu amiguinho:
- Corre, Nado! - Na esperança de que ele se safasse do revide da menina e corresse com ela. Quando olhou para trás não avistou ninguém. Correra à toa, eles não correram.

VISITAS DESEJADAS



As crianças aguardavam ansiosamente as raras visitas dos avós, tias, tios, primas e primos. Vinham à casa da irmã uma vez por ano ou a cada dois anos e o acesso a pé da Usina até o Bairro Fria era-lhes penoso. Porém as suas presenças traziam eufórica alegria a eles. Juntamente com a beleza e a educação da tia adentrava à casa um delicado aroma de perfume e pó-de-arroz que destacava a pele macia morena, os lábios sempre realçados com um batom de tonalidade marrom claro. O belo cabelo cacheado. Vestida elegantemente com traje social, calçando simples, mas finos sapatos fechados e usando meia calça quando a temperatura estava em baixa.
 -Tia, a senhora veio pra posá? – Indaga Regina, vencendo a vergonha.
 -É claro que sim! -Sorrisos alegres, mas discretos, iam deixando-se levar pelas mãos das primas da cidade. Brincar de passa anel, adivinhar mês, passa-passa bom barqueiro, as três mocinhas da Europa, morto-vivo, cirandas como “ciranda cirandinha vamos todos cirandar vamos dar a meia volta meia volta vamos dar, o anel que tu me deste era vidro e se quebrou o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou, por isso dona Soninha entre dentro desta roda, diga um verso bem bonito, diga adeus e vá embora”, “Terezinha de Jesus” ou “gato e o rato” , puxar-cabelo, pega-pega nos galhos das mangueiras.
No verão brincavam no rio. Nos lugares mais rasos era possível sentarem-se nas pedras de tamanhos e formas diversas dentro da água e até mesmo deitarem-se de costas. A água cristalina passava pelos seus corpos imersos, cabeça para fora. Pedras pontiagudas destacavam-se na superfície. Rochas escuras pareciam bichos presos no fundo do rio. Os locais mais fundos eram deixados aos maiores. “Cuidado com a correnteza lá em cima!” - Alertava a mãe. A erosão aparecia em alguns trechos, deixando à mostra o barranco avermelhado, algumas raízes salientes expostas, que adentravam as águas. Um generoso pé de pitanga carregado, à beira do riacho, desprendia as frutas na água ou eram colhidas e lançadas pelas crianças, para alegria dos peixes, lambaris e pintados, que emergiam. Alguns galhos permaneciam suspensos sobre o rio como se desejassem alcançar as águas, o que de fato alguns conseguiam. Folhagens grandes e pequenas decoravam o espaço. As arapongas com seu canto estridente, os gaviões, os anus com suas pretíssimas penas e os outros lá desciam para beber água. Uma pequena raposa passou correndo e escondeu-se. Arremessavam pedras na água para ver a ondulação e o desenho que se formavam.
-Olha! Um lavacu ali! –Tetê indicou o fino inseto que num relance batia a parte anterior na água.
                -Tem uma borboleta preta com uma mancha amarela, ali, olhem, que bitela!- mostrou Sirlene, correndo atrás dela. –Olha lá, ali, ali!!!
            -Não pegue nela, que o pozinho das asa tem veneno pros óio!! – falou Tetê, em seus cinco anos. – Ô Sirlene, ocê tá cheia de picão!  Ah ah ah !-Tetê ria da menina cuja calça estava lotada de semente preta e fina. Ajudou a retirar um a um.
            -E ocêis tão tudo com carrapicho. Pinica a mão, viu?! –Fala Luzia, levantando a barra da calça para extraí-los.
            Chegaram a casa exaustas, depois do banho no rio foram escolher o feijão na bacia, o arroz na mesa. Sirlei ficou fascinada pela destreza da tia abanando o feijão em uma grande peneira. Seus olhinhos acompanhavam o sobe e desce dos grãos, cuja palha ia caindo ao chão, permanecendo na peneira o feijão limpo, sem derrubar o feijão junto com a palha que “voava”. Tal era a agilidade do movimento que mal dava para perceber a existência dos grãos. Sua vista ficou embaçada e pediu à tia se podia fazer também. A resposta foi um não bem taxativo. Dona Auda não pretendia perder todo o feijão colhido. A menina não insistiu. Palavra de tia não se volta atrás. Se bem que as suas filhas sabiam tranquilamente peneirar os alimentos desta maneira eficiente.
            -Lavem bem as mãos com sabão, pra janta. Tem água no barde ali fora, falou Dona Auda, e disse também a Tetê:
            -Tetê, limpe este narótio, vamos?! – Gripada, o nariz da menina desprendia o catarro, enquanto o cachorrinho Lulu abanava o rabo, tentando afastar-se das moscas inoportunas. Maria as amaldiçoava:
             – Saiam de mim!!!
            De manhã, como já era costumeiro, acordaram de madrugada. Mas neste dia em especial, “quem ficar por último é mulher do padre”, um correndo mais que o outro pra chegar ao rio e lavar os olhos. Só os olhos! A água ficava gélida nesta época do ano e a ordem primordial era “Vardevino, Soninha, Sirlei e Jandira, lavem bem ozóio pra tê vista boa pro resto da vida”.
             Dona Auda foi orientando os sobrinhos na sua religiosidade e fé. Era sábado de Aleluia! E era costume lavar os olhos na água fria do rio antes de iniciar qualquer atividade neste dia. Superstição ou não, isso “garantia” uma boa saúde aos olhos das crianças, além de lhes propiciar um clima de curiosidade e magia contagiantes.
            -Mas se der dordóio é só pingar leite no olho, não é? –comentou Izolina ainda na cozinha.
            -Ah sim, é um santo remédio! -Fala Dona Auda espreguiçando-se.
            -Lave a fuça toda, Sirlei! pra se acorda! – Ana alerta a prima que, com as pontas dos dedos lavava exclusivamente o canto dos olhos, com os pés fincados no saibro do barranco, à margem do riacho.
            -Mas tá muito gelada. Ui! –explica a menina sem pestanejar. –Sua mãe falou “os zóio!” Atchim!!!
            -Saúde! -riram todos e começaram a jogar água para o alto. Correram à casa para se aquecer, brincando de pega-pega.
            -Figuinha! -Tetê cruzou os dedos da mão direita, pedindo uma pausa na corrida. Parou para apreciar um pica-pau furando o velho ipê roxo. 
            Passaram pela porta da cozinha: Sirlene sentada numa cadeirinha improvisada - Maria e Soninha com os braços entrelaçados transportavam a menina-, enquanto Regina e Sirlei faziam o mesmo com Tetê.  
                -Venham ver! Venha ver mãe! Eu estou alta! –Sirlene chama a mãe e a tia.
             -Não façam banzé! -lembra Dona Auda.
          Aparece Nardinho e convida:
            - Ô primo, venha ver o estilingue que eu tô acabando de fazê! - olha para Dona Auda e completa animado - Ô mãe, eu achei uma forquilha que dá certinho pro estilingue. - Correm ele e Vilson para a mata. Este, um jovem digno.
        - Leva eu Marciano! Espera eu que eu tamém ! – Gritavam as crianças quando sobrevoava algum avião por lá.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Identidade

De repente o retângulo ficou quadrado
e quadrada a vida é
Com pesos e medidas
 a triangular a fé!

Dou um jeito no losango
Abraço o circular.
Afasto aquele com um pontapé
e  no círculo eu ponho fé!

Quando me vejo desconhecida
de mim mesma, perdida
Reclamo da confusão
por mim estabelecida!

Com quatro cantos, quadrada
serei eu ou a vida?!
Arredondando as minhas crises
encontro uma saída
 nas minhas raízes!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Uma partinha do Livro A Menina do Bairro Fria...


Um dia, Luzia e Regina baldeavam água do rio, num bigolo, para o cocho dos porcos, quando avistaram um forte redemoinho se aproximando.

            - Corram, suas pestinhas, não tão veno o que vem lá atrais? – Maria trocava o gasto pavio das três lamparinas, sentada num tronco perto do poço, e alertou as irmãs. - O saci tá preso lá drento e se passá por perto ele sai e vem catá ocêis!!
            - Cruz credo! Iscunjuro! Não quero coisa ruim catano eu, não. Corre, Luzia! – Bradou Regina à irmã que a seguia, em disparada. Os quatro baldes sacudiam a água deixando marcas na areia.  As crianças levavam esta crença com seriedade e talvez até os adultos acreditassem nela. Não seria mais fácil entender que o redemoinho enchia os olhos de poeira e cisco, ao invés de pôr a culpa no saci? Não sabemos... Na corrida elas quase trombaram com o pai e o irmão que voltavam da roça puxando as duas mulas, com as ferramentas atadas ao lombo, o cão Fiel correndo à frente. Ambos riram das meninas, que ainda tiveram tempo de esgoelar:
            -Sai da frente Lindóia! Tá vindo um “pé-de-vento” aí!! – A mula baia, cor de tijolo, mansa e apreciada por Regina, soltou um estridente relincho e quase fugiu aos pinotes, assustada. Nardinho redobrou a força na corda que a sustinha.
            - Deixa eu passá, Minerva, sua branquela! - Gritou Luzia, matreira como ela só. A mula ficou ziguezagueando confusa no meio da areia branca que se suspendia do chão.
            -Êpa! A Minerva deu no pé, destrambelhou!! - Seu Nardo corria atrás da mula que escapara levando a grossa rédea de estopa. Corria e gritava “costa ô!”, que seria encosta aí, e bradava “cruz em credo!! Sua lazarenta, vorta aqui sua morfética...!!” - E ele prosseguia emitindo sinais sonoros que somente o animal reconhecia, enquanto lá adiante se via a ferradura ao ar com os coices que ela dava.  A muito custo ela foi resgatada pelos dois e levada ao pasto para o merecido repouso, milho e água fresca.
Quando as meninas entraram na cozinha os baldes estavam quase vazios ou sobraram apenas um restolho d’água .
            -Agora, que tem saci-pererê fazeno estripulias na crina das mulas e do burro... ah, isso tem. Eu mesmo vi, de madrugadinha, saí pra ponhá os arreio na Minerva e encontrei ela e o burro com trancinha e até que tava bem feita - argumentou Nardinho, dando um tapinha na costa suada de Lindóia, enquanto ele e Seu Nardo descarregavam arreio, “quaiera”, relho, tapa olho, guardando-os na tuia. Alguns sacos de adubo químico se acomodavam empilhados num canto, um cheiro forte se misturava no ar, diferente do esterco animal.
            - O bichinho é danado de esperto e só qué fazê peraltices. Ele gosta de brincá e se ninguém mexê co’ ele, não acontece nada, é que nem criança travessa, só isso! - Explicou o pai, convencido de suas próprias palavras, ia retirando o chapéu e o lenço que protegia o seu pescoço.  – E precisamo apará as crina e o rabo dos animar. Onde será que tá o tisorão? Tem que amolá ele, viu fio?! Óia, essa história dos padre e as muié não dá certo não, viu...- E prosseguia falando compulsivamente.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

PAUSA PARA AGRADECIMENTO

        Agradeço, de coração e bolso, a todos que deram uma baita força para a escritora principiante, Euzinha, comprando o livro A Menina do Bairro Fria, por encomenda ou nas livrarias. Também agradeço aos amigos que encomendaram O Efeito Espacial, de Camilo Irineu Quartarollo. Vocês valem ouro!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

POEMA O Crime

O CRIME

Folhas rebolam
            A tempestade as faz rodopiar
            Como ao som de um rebolado
            Com seus corpinhos frágeis, quase nus
            Meninas-crianças
Sobem e descem
            Simulando um mundo de adultos que um dia serão
            Privadas da infância
Cada vez mais estão.
Agora outra menina grita
Mas seu grito é pelo silêncio dos adultos
Quem lhe deixou sozinha, à mercê de um vilão?
Nenhuma novidade
Só repetição.
Não! Alguém denunciou o caso não casual.
Corre livre a girar a menina,
Mãe.
A tempestade passou...
Mas a ventania agita as folhas da sua vida.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Espetáculo Teatral "Histórias que foram e não Voltaram"

  Oi, amigos! Domingo, 13/10, os atores Jone e Bruno, do Grupo Semearte, Escola Jorge Coury, compareceram ao auditório do Sesc para receberem o troféu e os certificados pela brilhante  participação na XVII Mostra Estudantil do Colégio Piracicabano.

                                                               
                                                                   Valeu, meninos!




                 Quero felicitá-los pelo grande empenho e responsabilidade na atuação cênica e na criação do texto. Um domínio de palco, de espaço, surpreendente para quem pisou no palco pela primeira vez! Um autor jovem, dois jovens atores! Sob a organização de Márcio Abegão e o apoio da equipe "anjos", mais os comentários das quatro juradas, como Bêne Giangrossi e Tatiane Carcanholo, a Mostra comprovou mais uma vez a importância do teatro e a força e coragem dos estudantes e professores de Piracicaba e de outras cidades.  Valeu Abegão! E um forte abraço à Professora Josemaira Mendes, que esteve presente na apresentação e apoiou o grupo o tempo todo. Ao Camilo Quartarollo que, juntos, conseguimos dar uma forcinha aos talentosos garotos que, com certeza, terão um futuro promissor quer na área da dramaturgia, na vida pessoal e em qualquer outra área. A luz divina se faz presente na vivacidade de Jone e Bruno!! Parabéns e obrigada por me proporcionar luzes no fim dos túneis!
              Já participei vários anos da Mostra Estudantil, inclusive da 2ª edição, em 1994, levando as Escolas Jõao Conceição, Jethro Vaz de Toledo, Jorge Coury, Colégio Lúdico, e, percebo que tem crescido, apesar de ter diminuído a participação das escolas públicas.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

SUPER BLOG!!

Oi! Indico este novo BLOG da escritora Ivana Maria de França Negri, responsável pela página literária no JP e na Tribuna. Muitos prêmios e livros... Grande ativista a favor dos animais, da flora, da vida e da paz. Acesse o seu blog, pois valerá a pena. É muitooooooo booooommmmmmmmm!!
        Abraços,
                Sou vegetariana por amor aos animais
 
 
 
 
"Se os matadouros tivessem paredes de vidro
todos seriam vegetarianos."


(Paul e Linda Mc Cartney)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Mulher Água

  Lá vai um belíssimo poema de Ivana Maria França de Negri! Sinta os sensíveis detalhes de uma mestra!

                                                              
São tantas as águas,
suadas, choradas
mornas, salgadas,
frias, adocicadas
Todas sagradas.

Águas amnióticas
envolvendo a semente,
alimentando a vida
ainda dormente.

Águas-lágrimas,
de dor, de alegria,
de pura emoção!
Rios brotados
direto do coração.

Águas rubras,
espessas, grumosas,
pacto de sangue
a fluir todo mês.

Águas doces,
leitosas, branquinhas
brotando dos seios,
pingando macias
em ávidas boquinhas.

Águas porejadas,
destiladas, salgadas,
suores voláteis
da lida diária.

Mulher-cachoeira
Mulher-oceano
Vertendo rios, lagos, mares...
Águas de sedução,
jorrando amor
Mulher-água,
fonte da vida!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

PEREGRINAÇAO OU LOUCURA

 Cena de teatro em que um peregrino ou louco  caminha carregando um enorme saco às costas e vai gritando, gesticulando:

- Vosso amor é limitado a um círculo íntimo de parentes ou de amigos e todos os demais são indiferentes para vós. Se amardes apenas os que vos amam, que recompensa tereis, uma vez que as pessoas de má fé também amam aqueles que as amam? Amai muito para serdes amado, já dizia João, O Evangelista. Se houvesse amor entre os homens, a caridade seria melhor praticada, mas seria preciso que vos esforçásseis no sentido de libertar os vossos corações dessa couraça, a fim de ficardes mais sensíveis ao sofrimento do próximo. Olho por olho, dente por dente, pois eu vos digo: pagai o mal com o bem. Coloca a tua espada na bainha, pois aquele que matar pela espada, pela espada morrerá. De fato meus amigos, que coragem, é essa, nascida de um caráter violento, sanguinário e colérico, que reage à primeira ofensa?
Não julgueis, se não quiserdes ser julgados, porque a letra mata e o espírito vivifica. Por que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, vós que não vedes uma trave no vosso? Ide vos reconciliar com vosso irmão antes de apresentar vossa oferenda...
Não basta portanto, ter aparência de pureza; é preciso, antes de mais nada, ter a pureza de coração.
Jesus não disse exatamente que o reino de  Deus é para as criancinhas, mas para aqueles que se lhes assemelham.
Já lhes disse que os povos quáreis no Saara também não tem casas, pois suas casas são seus túmulos. E os homens errantes sabem onde vão chegar, mas nunca chegam...
É preciso partir, sair em busca, fazer uma opção, para, depois que tiver deixado, é aí que se reencontra consigo próprio  ....é assim o homem."

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

CARTA À BELINHA



Queridas e queridos leitores! Com esta carta ficcional eu participei do 1º Concurso Guemanisse de Cartas, e lá estava ela, entre as 150 selecionadas das 1230 inscritas. Legal, né? Obrigada por me apoiarem.




Piracicaba, 05 de agosto de 2010.

Querida amiga Belinha; como está a vida aí? Espero que esta a encontre com muita energia e plena saúde. Eles estão fazendo muito barulho aí? Cuidado com os latidos! Aqui na nova república, na qual compartilho com duas estudantes, as coisas estão caminhando, apesar de alguns obstáculos na adaptação.
            Dois anos já se foram e eu sinto tanta saudade de você, querida Belinha! Mas tenho que continuar meu tratamento de saúde e meus estudos. Sabe?! Às vezes me pego pensando em meus amigos e amigas de outrora. Uns sumiram, outros me comunico só por e-mail ou torpedo, outros raramente, encontro no Orkut; mas, pessoalmente mesmo, só tenho visto você e Fabíola, a cada seis meses. Nesses dias de extremo frio, em que os pensamentos se agitam apesar do congelamento corporal, lembro de nossas estripulias. Juntas, mais que irmãs, compartilhávamos das brincadeiras e das decepções de criança e de adolescente.
            Brincar de bola e pega-pega era a sua distração preferida. Lembra-se daquela vez em que subimos naquela pequena árvore próxima ao muro, na casa das jabuticabeiras? Você subiu tão rápido, que acabou caindo no quintal da vizinha, quando o galho para lá curvou. Parecia uma macaquinha branca se agarrando ao galhinho. Sempre que penso nisso dou risada sozinha e olhe que não tem ninguém para me acompanhar nas gargalhadas.
            Nada lhe aconteceu desta vez, mas você sempre acabava se metendo em confusão. Lembrei-me de quando mamãe chamou você para lhe dar banho - você era bem pequena ainda – e você, ao ver a toalha nas mãos dela, simplesmente escondeu-se embaixo da escrivaninha de meu pai, atrás da cadeira, que nem um gato medroso. Porém, não escapou do banho e dos xingos dela. Continua com preguiça de banhos?
            Aqui, como faz muito frio, quase o ano todo, e chove incessantemente como um dilúvio, tenho tomado banho uma vez por dia, às vezes, nem tomo; assim economizo água, he, he, ehe...
            E os treinos, como vão aí? Eu tenho feito dança para arejar a cabeça e aliviar o corpo. Estou também com vontade de entrar num grupo de teatro aqui perto de casa – que fica próxima à faculdade, assim não gasto com transporte, né?! – estou precisando desenvolver e aproveitar a minha criatividade, além de descontrair-me mais. E esta é a última carta que envio a você.
            Sabe Belinha, também sinto saudade dos meus pais e irmãos. Pena que eles não têm e-mail, é que fica muito caro telefonar sempre, e se tivessem computador ficaria mais barato. Sei que é difícil para você e não aprecia muito as comunicações via máquina, mas eu só uso quando necessário e não me deixo viciar. Faço pesquisas, leio sínteses de bons autores, visito alguns blogs de poesia, contos e crônicas, e é só. Também não mando correntes de orações, pois receio conterem vírus – que é uma praga só, e fica muito superficial e imposição; acho que a oração deve ser livre, espontânea, igual àquela vez em que você ficou com virose e foi internada, está se lembrando?
            Foi sim! Eu e minha mãe oramos por você durante os quatro dias de internação. Temíamos que fosse morrer. Pedimos aos santos, Francisco de Assis e outros, aos anjos guias e todo o resto das divindades. Graças a Deus recuperou-se! Estava tão magra, nada parava no seu estômago, vomitava tudo, além da diarréia. Deus me livre, não gosto nem de lembrar...
            É, minha linda, vivemos muitas coisas juntas, mas agora, aqui, tenho dificuldades de fazer verdadeiras amizades. Parece que sinto medo de me aproximar e confiar nas pessoas. Sei que boas amizades demoram a se solidificarem, só que, sinto-me sozinha, sem ninguém pra conversar. E você, já arrumou um “namoradinho”? Minha mãe falou que você estava de olho no Djavan da esquina. Como ele é? Cuidado heim, amiga! Não vai fazer igual à Paloma, que engravidou cedo e depois se complicou na criação do filho, sozinha.
            Desculpe-me por ficar lhe dando “lição de moral”, mas é que eu me preocupo com você; apesar da diferença de idade, sei que você é ingênua em relação a certas coisas e, dizem que quem ama cuida, então eu “cuido” de você.
            Não sei se já sabe, mas arrumei uma gatinha preta, muito fofa e carinhosa. Tem me feito companhia, só que têm dias em que ela some e reaparece do nada. É independente demais. Será que isso é bom?  Hoje penteei os cabelos dela igual eu escovava os seus, lembra-se, Belinha?! Espero que não fique enciumada, afinal, são amizades diferentes e ambas sinceras.
            Você não vai acreditar, mas, outro dia eu estava trocando os jornais que costumo colocar pra ela fazer xixi e cocô na lavanderia do apartamento e, de repente, vi uma notícia que me chamou a atenção, abaixei-me mais e quando vi, estava eu de quatro, lendo animadamente. Só assim mesmo pra eu ler jornais e me atualizar um pouquinho dos malefícios do mundo. Só eu mesma! E tem mais. Essa você vai gostar: quando a minha gata Nenê faz xixi bem encima da cara de algum bobo famoso e volúvel eu me divirto, aliás, coloco sempre a cara deles para o lado de cima. Se tiver imagens de alguém legal e altruísta, retiro o jornal antes de ser manchado pela gatinha.
            Bem, enfim, já contei coisas demais, sinto se lhe aborreci por algo inconveniente. Despeço-me com saudades e esperando que esta chegue brevemente até você e estou mandando gotículas do meu perfume preferido nesta.
            Belinha, minha fofa, não queria que soubesse por terceiros, mas como não sabe ler, mamãe vai lhe contar. Agora criei coragem, é isso. Não quero que fique triste, a vida continua sempre, sempre, mas...eu estou doente de verdade, estou morrendo.
                                                       Com todo amor e saudades,
                                                                     Líria, sua melhor amiga!
   P.S. - Dizem que o cão é o melhor amigo do homem. Eu lhe digo, de coração, que você, Belinha, é a melhor cachorra amiga da mulher.