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sábado, 1 de fevereiro de 2014


Breve reflexão do livro  Os melhores contos brasileiros de todos os tempos

Mais uma impressionante antologia de contos, das tantas organizadas por Flávio Moreira da Costa, esta de 2009, ed Nova Fronteira, com 792 páginas, onde o org. vai contextualizando brevemente cada autor e suas obras; claro que, outros contos sensacionais ficaram de fora pois já estão em outras antologias organizadas por Flávio; autores dos séculos XIX, XX e alguns vivos ainda no XXI, alguns mais conhecidos, outros menos ou nunca vistos por mim, mas emocionei-me com dezenas deles, e dentre os 87 contos deste livro divididos em dez seções, peço licença aos leitores para citar e enaltecer os meus 37 preferidos, um convite e sugestão a que outros os leiam pois o encantamento virá sem pedir licença.       
 Da 1ª seção, Conto antes do conto ou A infância da ficção, destaco o conto/oral “E foi inventado o candomblé” (anônimo – Brasil africano); dos “Contos Fundadores ou À sombra do romantismo”, escolhi “A dança dos ossos” de Bernardo Guimarães, “Camila: memórias de uma viagem” de Casimiro de Abreu, e “Encomendas” de França Jr; dos “Contos Sem data ou Machado de Assis”: “Uns braços” (obviamente que eu o escolheria), “Missa do galo”; do capítulo “Contos pioneiros ou o nome do conto-menino” destaco “Redivivo” de Domingos Olympio, “Os brincos de Sara” de Alberto de Oliveira, e “O crime do tapuio", de José Veríssimo;
Dos “Contos transeuntes (1)” selecionei, a meu puro gosto, “O velho Lima” e “Banhos de Mar”, ambos de Arthur Azevedo, “Tílburi de praça” e “50$000 de gratificação”,  ambos de Raul Pompeia, “O madeireiro” de Aluísio Azevedo, “A noiva do golfinho” de Xavier Marques,  e “A caolha” de Julia Lopes de Almeida; dentre os elencados como “Contos regionalistas ou histórias do Brasil profundo”, escolho “Banzo” de Coelho Neto, e “Selvagem” de Vicente de Carvalho (bárbaro esse conto, amei); Contos transeuntes (2),  “O minuete” de Magalhães de Azevedo, “O homem que sabia javanês” de Lima Barreto, “O fim de Arsênio Godard” de João do Rio, “O comprador de fazendas” de Monteiro Lobato,  e “O legado” de Godofredo Rangel (excelente);
Dos “contos modernistas ou a virada de 1922 e 1930” fiquei impressionada, e aos prantos li, me envolvi e senti a experiência do peixe “Bapo” de Francisco Inácio Peixoto (Grupo Verde, anos 20), o mesmo para o já conhecido “Baleia” de Graciliano Ramos, e para “As mãos de meu filho” de Érico Veríssimo, e para “Tangerine-Girl” de Rachel de Queiroz; De “Contos modernos ou Amor e morte na cidade grande”, fui mais tocada por “O telegrama de Ataxerxes” de Aníbal Machado, “Stela me abriu a porta” de Marques Rebelo,  e “Flor, telefone, moça” de Carlos Drummond de Andrade;
E do último capítulo “Contos contemporâneos ou A terceira margem na hora neutra da madrugada”, envolveram-me mais “O ex-mágico da taberna Minhota” de Murilo Rubião, “Viagem a Petrópolis” de Clarice Lispector, “João Urso” de Breno Accioly (maravilhoso), e outro de Lygia Fagundes Teles; “Sorôco, sua mãe, sua filha” e “Desenredo” ambos de Guimarães Rosa, “Trem fantasma” de Moacyr Scliar, e “O arquivo” de Victor Giudice. 
Quanta gente boa escreveu e ainda está escrevendo coisas muito boas, desconhecidas da maioria de nós; personagens e mais personagens criando vida e espalhados por aí, a espera de um leitor apreciador. Quantas vidas, pedaços de vidas, ficções, realidades particulares, transformadas ou não, a literatura é o terreno fértil onde se cria a selva e o jardim. Pena só aparecerem 4 mulheres. É, penso que, de fato, as mulheres tinham pouco tempo para pensar, sentir sentar e escrever, além de pouco espaço e oportunidades para avançarem. Por isso, como analisam alguns, não conseguiam competir com o homem em relação à própria maneira de verem a si mesmas, de falarem de si, coisa que os escritores homens faziam muito bem, talvez exatamente porque elas tinham mais dificuldade para conhecer-se, valorizar-se, se tocar, se enxergar, observar, a não ser pelo olhar e mãos do homem. 
                                        Leitura recomendada, então!
 
 

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014


VISITA DEFINITIVA ( a verdadeira história de Belinha e Princesa!)

Princesa dorme agora, sonhando com uma nova companhia que chegará em breve. Esta companhia sou Eu! Afinal são 11 anos em que ela monopoliza o território do quintal e quase da casa toda. Espaços estes conquistados pouco a pouco, no decorrer dos anos, na casa da família Stocco.
Cheguei num domingo de muito sol, tímida e medrosa. Os dois seres estranhos que me adotaram parecem gostar de mim, afinal me escolheram entre centenas, cuidados todos pelo pessoal de uma generosa Ong, a Viralata Viravida. Deram-me um nome curto: Bele! Gostei! Depois vi que o meu novo nome era Belinha!  Encontrei a cadelinha deles, a Princesa, já na entrada, no portão da Ong. Levaram-na junto para que nos conhecêssemos fora do território dela, acaso rolasse algum desentendimento ou ciúmes de sua parte.
 
A mulher magrela passava as tardes junto a nós, no espaçoso quintal, fazendo brincadeiras para nos aproximar. Jogava um brinquedinho para a veterana poodle e uma bolinha para mim, primeiro na direção oposta depois na mesma direção. Corríamos, enquanto a minha nova amiguinha pegava o bibelô e o segurava nos dentes, eu pegava a bolinha e levava para a mulher. Na hora de apanhar a bolinha minhas pernas pareciam desengonçadas e eu demorava a pegá-la. Ai senhor meu Deus!Ela fica correndo atrás daquela garrafa pet verde, arrasta pra lá e pra cá, joga pra cima, pressiona-a no muro e a levanta com o focinho. Aí quando aparece a mulher para chutar a garrafa com ela, vixe, a barulheira aumenta, pelo amor!! Não vejo graça nisto.
Acabo de passar por uma cirurgia. É para não ter mais filhos, apesar da minha pouca idade. Deixei minhas crias na Ong. Os seis. Desmamaram-se e o pessoal de lá já tomou providências pra que não pegasse mais filhos. Judia muito da gente e não tem como criá-los com dignidade.
Agora, no meu novo lar, faço de tudo para conquistar o carinho do casal e o respeito da poodlelzinha. Nos primeiros dias, minha perna tremia só em me aproximar dela ou de seus dois cochinhos, coloridos e asseados. Eu pegava dois grãos de ração e corria me esconder na casinha, a comê-los. Temia que outros cachorros, invisíveis, devorassem tudo, a me deixar na mão, quer dizer, na pata. Depois de algumas rosnadas, mostrando aqueles dentes e uma cara feia, Princesa passou a se aproximar de mim no intuito de me cheirar e me conhecer melhor. Cedi e também a cheirei.
Ela gira ao próprio rabo, mas não o alcança. Pobre cachorra! É a centésima vez que tenta, sem êxito, pois não tem rabo, a coitada.
 


Disputei a casinha de madeira com a poodle. Troquei várias vezes de casa. Durante o dia eu ficava na nova, comprada para mim, mais espaçosa e fresca, de material reciclável; à noite preferia a de madeira, mais aconchegante. E assim, trocamos de casa, eu e ela. Nada mal para um novo membro da família!
Eu quase não latia, mas em poucos dias minha voz foi se soltando e já podia acompanhar a Princesa nos latidos. Cheguei até a uivar, num certo dia. Fiquei maravilhada com a minha capacidade e coragem. Logo, o homem e a mulher, ela chefe da matilha, me orientaram a não latir o tempo todo, inutilmente. Tinha que maneirar, afinal, os vizinhos poderiam fazer uma reclamação da minha recente presença naquela rua. E eu não suportaria voltar a ser vira-lata, sem lar.
Ensinaram-me a “dar a patinha” como já fazia, com glamour, a Princesa. Chegou a hora do banho. Não aprovei muito, mas relaxei. As mãos humanas deslizavam pela minha cútis. Uma sensação muito boa de carinho e afeto. Afinal, a outra tomava seu banho semanal sem reclamar e ainda tinha que aceitar a escovação de seus pelos crespos que teimavam em se enrolar, principalmente nas orelhas. Ui! Que dor! Sorte que os meus pelos são lisos. Quer saber a cor? Caramelo! Meus olhos amendoados passaram a olhar compenetradamente nos olhos de mel da humana. Eu os fixava e sentia uma vibração boa pulsar dentro dela. Ela desviava a visão para, em seguida, fixar nos meus. Assim ficávamos por minutos, sem falar ou latir. Sensacional.

 
 A mulher cuida bem da gente. Já me levou pra receber a segunda dose da vacina. Foi só uma picadinha...Ui! Sei que é pro meu bem, pelo menos foi isso o que ela me explicou, antes da pontada! Em casa, ela escova nossos dentes, pastinha até que saborosa! Minha companheirinha é bem sentimental, mas acho que eu também sou. Quando a família se prepara para sair, ela vira as costas pra porta da cozinha, no quintal fica séria olhando para a parede do muro; pode oferecer petiscos naturais e saborosos (descobri que minha doninha é vegetariana/vegana) ou chamá-la, que não adianta, ela se melindra; não olha pra trás. Nem se mexe. Se fosse uma humana, diria que ela é um cocô!
Já no início, comecei a fazer coco no local mais adequado: alguns jornais estendidos no canto do quintal, atrás de alguns grandes e belos vasos de flores perfumadas. Isso, de imediato, agradou à magrela e ao marido dela, este que, com o tempo foi me conquistando e eu a ele; porém, não de cara. Permitia que desse umas lambidas rápidas em suas mãos ou pés. Ou seria porque não dava tempo dele escapar de minha ágil língua?! Sei lá. Depois acostumei-me a encostar a cabeça na perna dele e esperar um cafuné enquanto ele ficava no computador ou no sofá vendo sei lá o que. Eu subia no colo da mulher. Só sei que tudo caminhava bem – até a Princesa passou a me convidar para brincar de pega-pega e esconde-esconde, sendo que no primeiro convite que lhe fiz, ela recusara, agora subia em minhas costas e me provocava ou convocava a correr; eu a enganava, quebrando a corrida e meia volta, retornava correndo, às vezes em roda -. Porém, um costume meu, uma mania eu diria, deixou meus novos amigos de queixos e focinho caídos. Todo e qualquer acolchoado, na ausência deste, qualquer tapete ou paninho, eu puxava ao fundo do quintal, deixando a poodle com a casinha no chão duro de madeira.


Fiz isso depois de uma semana nesta nova casa. Juntava os brinquedinhos aos panos. Mordia os acolchoados revestidos de borracha que forravam as duas casinhas, até que a magrela, simpática como ela só, docilmente recolheu-os deixando só dois panos finos. Minha companheirinha, da qual brigamos uma duas a três vezes, preferiu se omitir nestas ocasiões, porém o homem e a mulher procuraram várias explicações, nenhuma plausível. “É uma franciscana, querida, só pode ser!”, dizia o homem, olhando-me torto. Sabia eu que, não estando nós no inverno, pra que colchão?
* Texto escrito em 2011; hoje, 2014, a Princesa está mais idosa e já não liga para os brinquedos, escuta com dificuldade e toma remédio para o coração e rins, mas corre como uma criança às vezes, e ficou meio ranzinza/ciumenta e mais protetora, sua liderança continua indiscutível e indisputável...Belinha está bem mudada, depois de um ano, ela conseguiu entrar dentro da nossa casa, sem medo e com confiança; come verduras e frutas e legumes igual à Princesa, mas é bem menos enjoada que esta. Salta bem alto, faz gracinhas, respeita a Princesa e se sente protegida por ela quando saímos à rua para um passeio. É extremamente amorosa e doce. Obrigada às duas companheirinhas. Valeu a pena!

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Um poema do livro Atemporal:
 
SIMPLESMENTE AMOR
Amor
Saturado, escorraçado
Não é amor.
Não se define num soneto
Não tem restos, pois inteiro.
Ama-se com os sentidos
Essência completa
Com ou sem devaneios
O amor, o amor, o amor
Tantas vezes pronunciado
Às vezes fugidio e medroso
Dá a cara pra bater
Como um louco cuidadoso
Ou louco apaixonado
Escapa-me a total absorção
Desse sentimento habitado
Sim, o amor tem sempre moradia
Seja um palácio
Ou uma humilde cabana.
Sempre há espaço
À sua inclusão
Perdoa, quem ama
E a quem ama, perdoa
Os equívocos e a desatenção.--------------------------------------------------------
Amigos, compartilho alegremente com vocês, o rico comentário da professora Teresa Bigaran sobre o livro Atemporal. Obrigada, Teresa , e obrigada, leitores!
 
"Seu novo livro de poemas é como um chocolate, você dá uma mordida e não consegue mais parar; eu só parei de lê-lo na última página e fiquei com o gostinho de “quero mais”. Seus poemas atingem ao mesmo tempo tanto as crianças quanto os adultos.  Ao lê-los  sentimo-nos crianças com o olhar do adulto. É uma sensação curiosa...Você tem uma facilidade imensa de lidar com nossos sentimentos e mexer com nossa alma, escreve situações cotidianas com tanta harmonia que é impossível não nos identificarmos com seus pensamentos e com as imagens que eles nos proporcionam.
 Suas poesias nos trazem um misto de sentimentos e emoções, de reflexões sobre o temperamento humano  e sobre as preocupações com a natureza.  Você consegue utilizar as figuras de linguagem de modo singular, personifica os objetos dotando-os de pura sensibilidade (é o caso dos poemas “O porta-retrato”,  “Os dois baldes”).
 
Você escreve com tanta propriedade que nós, leitores, começamos a valorizar até mesmo os simples objetos em nossas vidas.
 
Na poesia “Aquela que pega a enxada” voltei no passado,  vi minha própria mãe sendo retratada através destas simples e verdadeiras palavras. E não é só isso, você enquanto poetisa, não deixa de lado sua didática,  e coloca no papel seu lado professora também,  está sempre unindo o gosto pela escrita com a vontade de ensinar as crianças e até mesmo o adulto, refiro-me ao fado de você estimular a leitura nas pessoas através de seus poemas (“Josielle”, “Meninos dos Jornais”); mostra, também,  às crianças que os bichos devem ser amados, respeitados, enfim, mostra o amor que nutre pelos animais  (“Em minhas mãos os bichos”, “A carne é fraca”, “Que pena”, “Princesa”);  fala-nos sobre  valores (“Os Relógios”).
 
Estimula as pessoas sobre a importante tarefa de  reciclar o lixo -  poema “Lixeiros”). Faz críticas sociais (poema “Desapontamento”, “Iniquidade”, “O crime”, “Teco Teteco”). Faz com que nós reflitamos sobre a fragilidade humana (poema “Antes que a hora chegue”).
 
É impressionante essa sua capacidade de unir a “Luzia poetisa” com a “Luzia professora”. Isso é incrível... Dá uma verdadeira aula de história (poema “Zumbi”) e uma verdadeira aula de religiosidade ao falar sobre o perdão poema “Simplesmente Amor”, que lindo, amei!!!
 
Aliás, amei todos! Através de seus escritos, podemos perceber o quanto você valoriza o meio ambiente, a natureza e o quanto se preocupa com as pessoas e com os animais (ex. poema Fogo).
 
Quanto ao poema “Polyana”, eu também me vi enquanto mãe! Voltei no tempo. Que gostoso passar por isso novamente.
Que belo e romântico o poema “Enamorados”, pois há uma valorização da simplicidade dos gestos, dos atos que devem ser vividos a dois, a fim  de se cultivar os sentimentos verdadeiros; sentimentos essenciais para que as pessoas possam constituir famílias mais felizes; atitudes estas, muitas vezes,  deixadas de lado pela sociedade atual(...)
 Enfim, você, Luzia, é mesmo um TALENTO. No poema “Talento” você deixa claro que ser talentoso não é mérito somente de algumas pessoas, e sim de todos aqueles que buscam, que se dedicam e que são persistentes.
 (...) parabéns, escritora que brinca e brilha com as palavras!"

sábado, 11 de janeiro de 2014


O PORTA-RETRATO
(um poema de Atemporal, para vocês, queridas e queridos leitores)

 
Um porta-retrato choroso

Chorava de solidão

Portava uma foto há anos

Única no salão

A mesma

Um homem de fino bigode.

Um dia chegou

Outro porta-retrato

Àquele sorriu

Viu a foto de uma

Senhora sentada e concluiu:

-O meu dono tá apaixonado

E agora eu tenho alguém

Ao meu lado