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quarta-feira, 30 de maio de 2012


Amigos, trascrevo aqui e agora, a crítica que a escritora Ana Marly Jacobino publicou no "Prosa e Verso" do Jornal A Tribuna Piracicabana, seção "o que você está lendo?"  do dia 26 de maio:

 Estou lendo o livro: "A Colecionadora de Ovos”

Autor: Luzia Stocco

Editora: Patuá

Gênero: Contos


Percebo nos contos uma perspicaz compreensão da escritora para a mente feminina, e, o maior desafio é tentar decifrá-la. Saber o que a mulher deseja identificar quando está em crise, ou, em quadros considerados disfuncionais, é muito bem explorado pela escritora. A realidade é que o universo feminino é altamente complexo. Entender, explicar por palavras; o que as mulheres querem saber ao certo é a verdadeira incógnita.

Luzia Stocco nos seus contos escreve sobre a feminilidade, onde quer que ela se encontre: seja no homem, seja na mulher. Feminilidade esta, elaborada por Jung como: “anima”a faceta feminina do homem e de “animus”,a faceta masculina da mulher.

É bonito descobrir que o problema, que parecia insolúvel para um personagem, vira algo inusitado no decorrer da narrativa de alguns dos seus contos.

Tal qual, a tecedoraPelopia” da mitologia grega, a escritora tece com palavras as narrativas e o leitor vai se envolvendo na tessitura das histórias na bela voz da sua solista, a escritora: Luzia Stocco.


Gratidão, Ana Marly!

sexta-feira, 25 de maio de 2012


LIXEIROS

                   

A menina destemida

Flora Floriano

Sempre ativa

Nunca a via lamentando.

Não tinha tempo ruim

Sol, chuva, chuva com sol

Vivia a cantarolar

Lalálirililililiririllolollll...

-Lá vêm os lixeiros!

Pega o lixo reciclável

E abre o portão e corre

E corre mais ... e ...

 Atrás do caminhão grita:

Esperem! Espereeemmm:

- Lá em casa tem mais sacolão!!

Os lixeiros sorriem

Sem parar

E gritam sem parar

E gesticulam e assobiam

Saltando de um lado a outro

Com suas pernas que voam.

Por que correm tanto?

Pensa Flora, admirada!

Tão fortes, espertos

E um deles é o senhor Osmar

Amigão, bem conhecido na rua

Num instante vai-se embora todo o lixo

Na rua limpa

Respira, agradecida, Flora Floriano!








quarta-feira, 9 de maio de 2012

 Em dois contos, o universo feminino é revisto por outros ângulos, aos quais costumamos esconder; a experiência da alteridade, de uma visão não mais etnocêntrica; a solidão, a busca, encontros e desencontros, a indiferença ou o fazer diferente; as durezas e cascas da sociedade; a professora; as crenças e a fé; o limiar da loucura... “nessas condições, somente os loucos podem realizar proezas impossíveis aos normais”.   A sensibilidade, a poesia, a metáfora encontram lugar em meus contos.  Navego em mares ocultos, pairo na sexualidade recôndita, nas releituras de estereótipos, na criatividade, nas resistências, naquilo que a sociedade e a cultura podem paralisar ou avançar. Nem sempre há vítimas ou algozes, porém, a vida e a morte pulsam em cada um de nós, independente do gênero.

 “Em A Colecionadora de Ovos sentimos o cheiro da casa e do banho da velha Mariana, a rigidez das rugas e do passar dos anos”, como bem observou Marina Henrique no prefácio. Trabalhei o processo de individuação - uma referência Junguiana – ao explorar a imagem do ovo, mas também procurei fazer uma homenagem à memória de meu padrasto João Marçal, de Itamonte, MG, figura importante em nossa vida, e àquela comunidade rural, todos com grau de parentesco entre si. Este foi o primeiro conto que escrevi, antes mesmo do romance autobiográfico A Menina do Bairro Fria; foi o passaporte para as minhas experiências literárias. Escrevi-o em 2008. Foi premiado no II Prêmio Araucária de Literatura 2010 e Menção Honrosa no Mapa Cultural Paulista 2011, fase regional.

Foto de A Tribuna Piracicabana
No conto Torradas Não se Despedaçam, que foi premiado no 2º Concurso Literário Nacional Prêmio Buriti Cronicontos 2011 (antologia) temos a “hetero e homossexualidade”, vividas em sintonia com a essência de cada um, sua singularidade, como seres únicos que somos nós. Este foi meu segundo conto, escrito em 2010.

A partir de Torradas e de Como folha de coqueiro a despencar levei alguns meses para produzir os outros contos. Parte de minha inspiração para os contos veio da Lygia Fagundes Telles, pois aprecio seu jeito de escrever e suas ideias. Li, há dois anos, seu romance Ciranda de Pedra e acabo de ler As Meninas, este último é forte e, embora escrito em 1973 onde situa a mulher na sociedade e na família, é bem semelhante aos dias de hoje.  Para mim, a arte e a literatura só tem sentido se vinculadas à transformação, à consciência, à vida propulsora.

Escrevo para manter minha lucidez. Uma, entre muitas possibilidades, de manifestar meus pensamentos, minhas dúvidas e anseios perante a vida. O que está próximo e distante, a memória e a história da sociedade humana. Compartilhar e buscar repostas e saídas para a doença que atinge a todos, que é a hipocrisia.

 “Rimos de corar a face em Dureza”, escreve Marina. Algo semelhante acontece em Maria das Grossas e ambos são contos corajosos e ousados, eu acrescentaria. Nestes dois contos há uma oportunidade de revermos o lugar da mulher na sociedade atual, afinal, salvo algum engano meu, estamos bem aquém do esperado, somos instrumento de riso fácil e fútil nos programas e espaços de humor; e se antes (nossas avós) se permitia que o homem/marido fosse ao bordel “acalmar seus desejos” (afinal, só ele tinha desejos, e por sinal, “incontroláveis”, dizia-se), hoje ele tem isso dentro de sua casa, por meio da mídia, junto a sua família. Salvo exceções, ainda cabe à mulher a lida da casa e a lida fora da casa - a famosa tripla jornada de trabalho, tão ao gosto masculino, que se vê descompromissado das questões cotidianas, talvez as mais importantes à estruturação de um lar. Vejo então, um processo rápido de escravização do gênero feminino, por meio da moda imposta, dos tabus, das crenças e valores disseminados culturalmente, de geração a geração, inclusive na própria mulher (não a excluirei desta responsabilidade).
Artigo extraído do JP.






 O livro está sendo vendido diretamente no site da Editora Patuá, de São Paulo 





www.editorapatuá.com.br e pelo e-mailluziastocco@ig.com.br ou telefone 8158 3926 (19) ao preço de R$ 26,00, frete grátis.

Meu blog: literarteLuziaStocco.blogspot.com

Agradeço, de todo coração, às pessoas que já compraram o livro e às que estão nos apoiando com a divulgação.



SIMPLESMENTE AMOR



Amor

Saturado, escorraçado

Não é amor.

Não se define num soneto

Não tem restos, pois inteiro.

Ama-se com os sentidos

Essência completa

Com ou sem devaneios

O amor, o amor, o amor

Tantas vezes pronunciado

Às vezes fugidio e medroso

Dá a cara pra bater

Como um louco cuidadoso

 Ou louco apaixonado

Escapa-me a total absorção

Desse sentimento habitado

Sim, o amor tem sempre moradia

Seja um palácio

Ou uma humilde cabana


Sempre há espaço

À sua inclusão

Perdoa, quem ama

E a quem ama, perdoa

Os equívocos e desatenção








sábado, 5 de maio de 2012

Encontro com Tinoco
(Show dos Pamonheiros)

Era um show regional em Piracicaba, com cateretê, rock e moda caipira mesclados. O anúncio era de que o Tinoco ia dar o ar da graça. Fulminado por esta expectativa fui até o teatro municipal. Vi vários grupos e rostos conhecidos, ex-colegas de trabalho e transeuntes do dia-a-dia, sem saber que faziam tão bem aquela arte no palco. Lá pelas tantas anunciou-se a presença ilustre. Pensei que viria um cover! Que nada! Em passos lentos e de mãos levantados um velhinho bonito, de terno amarelo e cabelos como algodão doce, vinha com os olhos brilhando. Era o Tinoco mesmo. Quase fui beijar-lhe a mão. Muitos aplausos.
Depois foi dizendo sobre a proteção ao meio ambiente, a seu modo, com muita emoção, de quem quer deixar uma semente, uma pequena sementinha que seja, na beira do rio, que se refaça a mata ciliar. Falou como um xamã, sentou-se numa cadeira como um trono, a cabeleira branca lhe parecia um cocar de um sábio indígena. Poucas palavras ou nenhuma já atingiriam o entendimento da platéia em “transe coletivo”. Pude ver de perto a alma do Brasil. Sem cerimônia ouviu e cantou suas modas em ritmo de rock, com a sensibilidade de um verdadeiro artista, sem medo de qualquer estereotipo. A arte e os artistas assombram as categorias racionais mesmo. Há muitas formas vertentes da mesma raiz.
Saiu de cena, cansado para “pegar o seu cavalo”. Tinha compromissos em São Paulo. Veio “dar uma força” “aos menino”. Cochichei a minha esposa que se tinha ido a chance de autógrafo. Era compreensível. Via-se o cansaço, o peso da idade e a emoção que se submeteu. Via-se também que nos tantos anos de sua ditosa vida mantinha o carisma, tinha uma bússola interna para comandar um show, entrar e sair de cena. Contou histórias de sua vida, algumas das quais conheço por livros ou de admiradores. Manifestou a vontade de mudar e vir morar na região de Piracicaba. O que nos seria gratificante. Ver o Tinoco nos shows, assistindo peças de teatro, subindo nos palcos e fazendo compras por aí, não sei se teria o sossego que precisa.
Estava satisfeito com a despedida do Tinoco, pensei que não fosse ficar até o fim do show e ia “pegar o cavalo para São Paulo ao entrar pela coxia”, mas no final da apresentação fui até a recepção junto dos camarins e lá um senhor em pé, sozinho, com a cabeleira branca e eu disse a minha companheira “olha lá, é ele!”. Simples e sereno. Vi e senti todo um passado ali na minha frente – o herói de meu pai, de meu irmão quase-gêmeo, as suas modas que ouvíamos pelo velho radinho de pilha com interferências, os programas que fazia pela TV, toda uma história de emoção ali, toda aquela presença. Falei muito, queria dizer tudo de vez. Não sei se me conseguiu ouvir ou entender ou assustou-se comigo, falei de meu pai que o “adora”, minha esposa ia me corrigindo; ele todo-ouvidos, sereno como um ícone que é perguntou: “Seu pai mora aonde?”. Naquele breve momento nem sabia como responder ou porque perguntara isso, um autógrafo bastava e ele queria contatar meu pai? Conhecê-lo como se houvesse uma amizade antiga? Será que queria ir à casa do meu pai? Não tive tempo de mais delongas, outros, percebendo o movimento e a figura dele, vieram e tinham todo o direito. Eu fui matutando o que ele quisera dizer com “seu pai mora aonde?”.
O artista tem de ir onde o povo está e ele, velho, cansado, com compromissos familiares, veio a Piracicaba. (Texto de Camilo I Quartarollo).
Na foto, Camilo, os queridos amigos Val e Jil, eu e Tinoco. Minha homenagem à alma dele e de seu irmão Tonico, tão apreciados e cantados por minha mãe e minhas tias, e por mim, na infância.