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segunda-feira, 12 de agosto de 2013


Mais um texto da "História do Grupo Andaime de Teatro Unimep contada em brilhante livro"

Andaime – Um Jeito de Ser, escrito pelo doutor em História Social e Mestre em Teatro, Alexandre Mate. Lembro-me, agora, de passagens peculiares de nossa trajetória, do espetáculo Nonoberto Nonemorto: a nona Daniela, hoje na Itália, depois a nona Priscila, que maravilha! o nonoberto querido Chapéu, que enganava e convencia o público, sentado na plateia, já no começo do espetáculo! Da coxia, lágrimas eu derramava em toda apresentação. Carmem, Anselmo, Jerônimo, Fabio, Netinho e Netão! Jorge, Maria, Andrea e Brandão. Nelma, Bruno, Simone, Abegão, Marina H., Gabriela, Paulo, uma família! Como o “Peixe”, muitas viagens, prêmios, crítica aprimorada.

O processo da montagem, estreada em 2000 e apresentada por quatro anos, também foi de muito suor, risos e lágrimas. Os temas, profundamente pesquisados, deram continuidade à linha de estudo do Grupo. Diretor Francisco Medeiro, dramaturgo Luis Alberto de Abreu. Medina cenógrafo, Altafini a trilha sonora, Heise a iluminação, Jânea a dir. musical e Péricles assistente.

Improvisações rolavam em abundância. Valiosas discussões referentes à mitologia, aos rituais de transição. –É exatamente aí, no ápice do cansaço, que vocês irão criar com sabedoria, insistia o diretor. Montem aquilo que lhes toca profundo, aquilo que é mais relevante para a história de cada um. Olhe para o passado e revisite a sua identidade. Esse é o âmago da questão! Tragam encenado o sonho de cada um. Faremos a apresentação da cena e depois a revisitarão para retirar a sujeira, deixá-la mais clara e saborosa. -Apareci com meu sonho datilografado num pedaço de folha: “- o sonho da moça-mulher é poder viver num lugar onde houvesse justiça e igualdade social, meu sonho é conviver melhor comigo mesma, tendo calma, ser compreensiva, ajudar as pessoas de várias maneiras”.

 Paralelamente, os atores debruçaram-se sobre os dois bairros rurais de origem trentina, em Piracicaba, que após a conclusão do texto ficou sendo Santanaolímpia. Entrevistamos moradores mais antigos. Participamos da festa da Cucanha, desde a coleta dos materiais para o cozimento até o final, com direito a banho de lama.  “-Para escapar do desconhecido cria-se o mito, uma narrativa. O mito é onde moram os arquétipos. -Zia Maria dizia “Ter filhos quer dizer 9 meses de doença e tutta la vita de convalescência”.

 Cenas escritas, gravadas iam ao dramaturgo que voltava com um roteiro, resultado da criação coletiva: “... não é só as agruras e heroísmo das massas imigratórias e migratórias que constituem o Brasil, mas ganha contornos simbólicos e torna-se emblema da busca, da ânsia que agita a alma humana em pôr-se em movimento e buscar um lugar diferente de todos já conhecidos e experimentados...onde corre o leite e o mel...lugares míticos que estimulam a imaginação do ser humano, desde os tempos primitivos até os dias de hoje”.

Numa cena o personagem Nonoberto diz:-“Nossos pais saíram do Tirol e construíram Santanolimpia. Se ela acabar, se a gente quiser, fazemos outra. Acho que nossa comunidade não é essa terra, nem o dialeto, nem mesmo o Tirol. É coisa que não sei o que é, mas que está riscado lá dentro, e vai aonde a gente for.” Sou muito grata pela oportunidade de participar desse espetáculo, assim como do “Peixe”. Entrei no grupo Cochichonacoxia da Unimep em 1989 e no Andaime em 96.
(public. A Gazeta)
 

 

“Andaime – Um Jeito de Ser”  - Livro   25 anos de um  grupo de teatro

 Acabo de ler o livro Andaime – Um Jeito de Ser, escrito pelo doutor em História Social e Mestre em Teatro, Alexandre Mate, com uma rica abordagem sobre a trajetória dos 25 anos do premiado Grupo Andaime de Teatro Unimep, lançado recentemente.  O livro contém, relatos dos integrantes do Grupo, dos diretores e autores, cartas, comentários sobre os onze espetáculos encenados e algumas cenas, entrevistas aos heróis que, em 1986, fundaram o Grupo - Antonio Chapéu e Carlos Jerônimo. Faço, então, um feedback de minha morada no grupo por mais de 10 anos. Não esqueço os bonecos do Elias, recriados na Itália, com maestria do nosso diretor, Carlos ABC, em 1999. Lá, o público recebeu o programa “Dove il Pesce si Ferma”. Ao término do espetáculo só se ouvia “Bravo! Bravo!” acompanhados por intermináveis palmas, vindas dos corpos em pé, como jamais visto, por cerca de 8 minutos. Aquela sensação ficaria registrada eternamente na memória de cada um. Seguiu-se um debate “pela plástica teatrale, scenne, capiamo tuto!!”, diziam. Depois chuparam cana - algo jamais visto por eles, nesta região fria- que as meninas iam descascando e repartindo em minúsculos pedaços, sobras da cena de “cuspir cana”, das irmãs Dora e Deleise (Luzia e Vania), “humm, é doce!!”.

O grupo pesquisou a emigração trentina do final do século XIX, nas cidades de Cortezano, Meano e Romagnano, com uma média de 600 habitantes. O objetivo? Acumular material para a próxima montagem do grupo, cujo tema ainda estava amadurecendo. Nestes vilarejos não havia escolas nem crianças. Predominavam os idosos e os cães. Deste último, um ou dois em cada casa.  Encontrou-se em ruínas a antiga residência de Bortollo Vitti, o primeiro italiano tirolês a chegar à Piracicaba, em 1977. Em duplas, entrevistamos alguns moradores. Mãe e filho receberam a mim e à Vânia com uma mesa farta de queijos, vinho, pães diversos, água e outros frios. Admiramo-nos com o grau de confiança demonstrada na calorosa cordialidade. Com dificuldade, mas com um enorme desejo de comunicação, conversamos. Tal foi a alegria do senhor ao diagnosticar que determinada frase ele finalmente entendera, após minutos de tentativas, que gritou em êxtase:  - Capito!! Io capito! -Rimos todos.

“Lugar onde o PEIXE para”, estreado em 1996, apresentado durante mais de 12 anos, a intenção do grupo era enfocar a historicidade do ser humano, em seus costumes, suas raízes e memória; deu-se destaque ao universo caipira na reconstrução de sua identidade. Assim surgem personagens como a Nossa Senhora dos Prazeres que fez “banana” pra cidade, a Cobrona, a Moça do Rio, a Inhala Seca. Destacam-se as brincadeiras, que inté minha filha Polyana, na época com nove anos, participou; a Festa do Divino com a catira, a congada e o cururu; o corte de cana, os conflitos da sexualidade na adolescência, as crendices, tendo como fio condutor a lenda do Rio. O jargão tão conhecido pelo Brasil afora “São as deliciosas pamonhas! pamonhas de Pi-racicaba...!”repetido por Denirso (Paulo Farias). Adeus Dora, adeus Francesca, festeiro do divino, beata, cortadora de cana, viajante... Até um dia, Irma (uma das 3 Graças). Parabéns a todos vocês e outros personagens que por mim passaram, levaram um pouco de mim e, um pouco para mim deixaram. Meus amigos e minha mãe Auda, senhora dos figurinos e cenários.