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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Esquete de teatro por mim elaborada no processo de criação da peça Nonoberto Nonemorto, do Grupo Andaime, 2000.



SERÁ?

            Lúcifer está no centro de um círculo com velas acesas e dialoga com Deus que está do lado de fora. Ambos nus. ( há uma música tocando )
            Deus- Eu te baní por que havia necessidade disso naquele momento.
            Lúcifer- Eu não queria nada de mais, somente um pouquinho mais de espaço e liberdade.
            Deus- O poder, desejo irrefreável que lameia a alma e corrompe  os instintos. Pois eu te pergunto: Esses pobres famintos, famigerados da guerra cruel e injusta, qual é a sua versão sobre eles? ( entram refugiados e retirantes da Guerra, em completa desolação e medo, com olhares que devoram e pedem ajuda)
            Lúcifer- Meu caro, é o destino dos homens, a procura vã de cada um se encontrar às custas do desencontro do outro. Mas o que podemos fazer? É inútil perseverar...
            Deus- Pois eu diria que é o mesmo motivo  causador da sua banição, e bem vês que em nada mudou.
            Lúcifer-  Quem te garante que o bem é sempre bem e o mesmo ocorra com o mal? O tempo não é linear,  já dizia a História que ele é circular e você não sabe da missa nem um terço.
            Deus- Nosso tempo é simplista, sumário e brutal. A contradição é às vezes bem vinda, mas  não subestime a minha própria História.  O que dirá tu desse surpreendente quadro? ( entram duas mulheres grávidas de um mesmo homem, trocam roupinhas e informações entre elas, sorriem).
            Deus- Uma engravidou depois de uma briga dos namorados, onde o rapaz a procurou  para afogar suas mágoas, sem saber que a namorada também já havia engravidado em seu período fértil há dez dias.
            Lúcifer – Eu sei, a consoladora era virgem e também havia se apaixonado por ele, mas o cio grita mais alto, é latente o tesão e a paixão.
            Deus- Como você bem deve saber, ele optou em voltar para a namorada, mas a outra parece não se importar com isso, o filho é a única coisa importante para ela.
            Lúcifer- É a deusa-mãe desafiando as contradições da vida, mas não vejo nenhum mérito na atitude deles, o cara é um canalha e com uma conversa boa, deu no que deu. Aliás, os seus seguidores estão se afundando na lama dos desencontros, das oposições e das guerras caladas que incendeiam as cidades do mundo todo
            Deus- Elas, as mulheres mães, estão se comunicando e conseguindo romper a barreira do preconceito, do egoísmo e do distanciamento impaciente, ele também, eu diria.
            Saem a duas. Lúcifer sai da roda, entra Deus.
Lúcifer- Posso errar e acertar, quantas vezes for necessário, o meu mérito será o mesmo, mas o que morre em teu nome e em tuas mãos não são poucos, e o número de descrentes se acelera. Se bem que eles não acreditam mais nem em você nem em mim.
            Deus- Essa melancolia avassaladora que você trás junto de ti, esse humor que ama o claro e o escuro ...
                Lucifer- Que lugar tem o amor em um mundo como o nosso? A energia universal está dispersa e perdida. Eu mesmo já não suporto visualizar os paradoxos e incoerências desses homens podres que dizes ter criado. Cuida de tua obra, por que eu não estou mais a fim de padecer com tanta ignorância ...
            Deus- A energia universal será focalizada e revertida para os canais vitais à vida na terra e em outras esferas. Os gangsters desse século não terão mais espaço para sobreviverem, e aí sim, será o momento de você se decidir,  pela última vez,  de que lado ficará.




Um comentário:

  1. Luzia me liga ou passe o contato da diretora da escola em Tupi no meu e-mail... o pessoal topou fazer a apresentação... beijocas

    Abegão

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