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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

CARTA À BELINHA



Queridas e queridos leitores! Com esta carta ficcional eu participei do 1º Concurso Guemanisse de Cartas, e lá estava ela, entre as 150 selecionadas das 1230 inscritas. Legal, né? Obrigada por me apoiarem.




Piracicaba, 05 de agosto de 2010.

Querida amiga Belinha; como está a vida aí? Espero que esta a encontre com muita energia e plena saúde. Eles estão fazendo muito barulho aí? Cuidado com os latidos! Aqui na nova república, na qual compartilho com duas estudantes, as coisas estão caminhando, apesar de alguns obstáculos na adaptação.
            Dois anos já se foram e eu sinto tanta saudade de você, querida Belinha! Mas tenho que continuar meu tratamento de saúde e meus estudos. Sabe?! Às vezes me pego pensando em meus amigos e amigas de outrora. Uns sumiram, outros me comunico só por e-mail ou torpedo, outros raramente, encontro no Orkut; mas, pessoalmente mesmo, só tenho visto você e Fabíola, a cada seis meses. Nesses dias de extremo frio, em que os pensamentos se agitam apesar do congelamento corporal, lembro de nossas estripulias. Juntas, mais que irmãs, compartilhávamos das brincadeiras e das decepções de criança e de adolescente.
            Brincar de bola e pega-pega era a sua distração preferida. Lembra-se daquela vez em que subimos naquela pequena árvore próxima ao muro, na casa das jabuticabeiras? Você subiu tão rápido, que acabou caindo no quintal da vizinha, quando o galho para lá curvou. Parecia uma macaquinha branca se agarrando ao galhinho. Sempre que penso nisso dou risada sozinha e olhe que não tem ninguém para me acompanhar nas gargalhadas.
            Nada lhe aconteceu desta vez, mas você sempre acabava se metendo em confusão. Lembrei-me de quando mamãe chamou você para lhe dar banho - você era bem pequena ainda – e você, ao ver a toalha nas mãos dela, simplesmente escondeu-se embaixo da escrivaninha de meu pai, atrás da cadeira, que nem um gato medroso. Porém, não escapou do banho e dos xingos dela. Continua com preguiça de banhos?
            Aqui, como faz muito frio, quase o ano todo, e chove incessantemente como um dilúvio, tenho tomado banho uma vez por dia, às vezes, nem tomo; assim economizo água, he, he, ehe...
            E os treinos, como vão aí? Eu tenho feito dança para arejar a cabeça e aliviar o corpo. Estou também com vontade de entrar num grupo de teatro aqui perto de casa – que fica próxima à faculdade, assim não gasto com transporte, né?! – estou precisando desenvolver e aproveitar a minha criatividade, além de descontrair-me mais. E esta é a última carta que envio a você.
            Sabe Belinha, também sinto saudade dos meus pais e irmãos. Pena que eles não têm e-mail, é que fica muito caro telefonar sempre, e se tivessem computador ficaria mais barato. Sei que é difícil para você e não aprecia muito as comunicações via máquina, mas eu só uso quando necessário e não me deixo viciar. Faço pesquisas, leio sínteses de bons autores, visito alguns blogs de poesia, contos e crônicas, e é só. Também não mando correntes de orações, pois receio conterem vírus – que é uma praga só, e fica muito superficial e imposição; acho que a oração deve ser livre, espontânea, igual àquela vez em que você ficou com virose e foi internada, está se lembrando?
            Foi sim! Eu e minha mãe oramos por você durante os quatro dias de internação. Temíamos que fosse morrer. Pedimos aos santos, Francisco de Assis e outros, aos anjos guias e todo o resto das divindades. Graças a Deus recuperou-se! Estava tão magra, nada parava no seu estômago, vomitava tudo, além da diarréia. Deus me livre, não gosto nem de lembrar...
            É, minha linda, vivemos muitas coisas juntas, mas agora, aqui, tenho dificuldades de fazer verdadeiras amizades. Parece que sinto medo de me aproximar e confiar nas pessoas. Sei que boas amizades demoram a se solidificarem, só que, sinto-me sozinha, sem ninguém pra conversar. E você, já arrumou um “namoradinho”? Minha mãe falou que você estava de olho no Djavan da esquina. Como ele é? Cuidado heim, amiga! Não vai fazer igual à Paloma, que engravidou cedo e depois se complicou na criação do filho, sozinha.
            Desculpe-me por ficar lhe dando “lição de moral”, mas é que eu me preocupo com você; apesar da diferença de idade, sei que você é ingênua em relação a certas coisas e, dizem que quem ama cuida, então eu “cuido” de você.
            Não sei se já sabe, mas arrumei uma gatinha preta, muito fofa e carinhosa. Tem me feito companhia, só que têm dias em que ela some e reaparece do nada. É independente demais. Será que isso é bom?  Hoje penteei os cabelos dela igual eu escovava os seus, lembra-se, Belinha?! Espero que não fique enciumada, afinal, são amizades diferentes e ambas sinceras.
            Você não vai acreditar, mas, outro dia eu estava trocando os jornais que costumo colocar pra ela fazer xixi e cocô na lavanderia do apartamento e, de repente, vi uma notícia que me chamou a atenção, abaixei-me mais e quando vi, estava eu de quatro, lendo animadamente. Só assim mesmo pra eu ler jornais e me atualizar um pouquinho dos malefícios do mundo. Só eu mesma! E tem mais. Essa você vai gostar: quando a minha gata Nenê faz xixi bem encima da cara de algum bobo famoso e volúvel eu me divirto, aliás, coloco sempre a cara deles para o lado de cima. Se tiver imagens de alguém legal e altruísta, retiro o jornal antes de ser manchado pela gatinha.
            Bem, enfim, já contei coisas demais, sinto se lhe aborreci por algo inconveniente. Despeço-me com saudades e esperando que esta chegue brevemente até você e estou mandando gotículas do meu perfume preferido nesta.
            Belinha, minha fofa, não queria que soubesse por terceiros, mas como não sabe ler, mamãe vai lhe contar. Agora criei coragem, é isso. Não quero que fique triste, a vida continua sempre, sempre, mas...eu estou doente de verdade, estou morrendo.
                                                       Com todo amor e saudades,
                                                                     Líria, sua melhor amiga!
   P.S. - Dizem que o cão é o melhor amigo do homem. Eu lhe digo, de coração, que você, Belinha, é a melhor cachorra amiga da mulher.
           
                                     

Um comentário:

  1. E pasmem colegas de blog. A Belinha, a cachorra, foi escolhida dentre mais de 150 na ong viralataviravida. É membro recente e irmã da Princesa em nosso quintal. Adote um cão e escreva um texto, eles tem muito a nos ensinar e não sabem escrever, mas tem muito a dizer.
    Abs.
    Camilo

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