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sábado, 20 de outubro de 2012

Parente ninguém desmente



         
              Depois que Eduardo foi contratado por seu tio Alfredo, ex-prefeito da cidade de Mirabó e atual deputado estadual, suas chances de galgar degraus sem muito esforço e de garantir o futuro, principalmente o presente, de sua família, aumentaram como num passe de mágica.
           Eduardo, assessor do tio, estava bem próximo da esposa que, contratada, o assessorava. As brigas com os filhos gêmeos, se já eram constantes tornaram-se descontroláveis, pois ambos secretariavam o pai e a mãe e, para completar, as noras atuavam na administração de uma empresa pública, indicadas pelo tio e pelo sogro, evidentemente. Nada tenho contra gêmeos, entenda bem, caro leitor e assídua leitora, apenas considero a semelhança macabra, pois comprova o parentesco, sem qualquer exame de DNA ou apresentação de RG. 
        Quando o deputado Alfredo faz a passagem para outra dimensão, ou seja, aos mais entendidos “bateu as botas”, deixa seu passaporte ao sobrinho Eduardo, elegera-o seu sucessor dentro do mesmo partido – poderia ser de outro, que não faria diferença – por meio de uma campanha fraudulenta, com compras de votos, é claro. Desculpem-me pela franqueza, mas nos últimos 12 anos ando desacreditada de política, não da verdadeira política que, a meu ver, em tudo está inserida e digna de confiança, esta não, pois esta, creio, só existe no plano da utopia e na cucanha.
             Poderia eu apostar nos gêmeos, ou em Eduardo, que é filho único e nada sabe das partilhas e das concessões entre irmãos, ou em qualquer outro nome, como um amigo artista que se candidata a vereador com o intuito de pôr a mão na massa e alterar o sistema?            Também já aspirei me candidatar, ir candidatando, cândida, atando, ganhando as eleições... até ser presidente do Brasil, porém sei que minha sensibilidade me faria vomitar as tripas e quero morrer d’outra forma mais serena. 
         E quando nasce o neto de Eduardo, este logo vai dizendo, ainda na maternidade “há de se cuidar do broto...!”, confirmado pela esposa “tem de pôr o pé na profissão, meu futuro assessor!” O bebê, tão bem alimentado, desconhecia ainda a fama da família, mas intuía que algo ali não lhe pertencia. Crescido, deu um basta no nepotismo e partiu para a literatura, semeando ideias de generosidade e sabedoria. E olha, não era aquela época do coronelismo no Brasil, não, viu!

Um comentário:

  1. Como admiro esses voos libertários! Também fiz o meu e, ainda, quando necessário...
    Abraço, Célia.

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