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domingo, 18 de março de 2012

Prenda os Cabritos!

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 Sarau Literário de Março, onde recebi graciosa homenagem da ANA MARLY JACOBINO e do  público presente, maravilhosos!

                Entra a velhinha, com figurino da Graça, portando bolsinha, sacola e sombrinha fechada. Vai conversando pelo corredor, ainda tímida.

- Bá noite! bá noite! Ocêis viero memo! que barbaridade!quessa chuvona, por que vieram? Ahaaa, já sei, pra ver a Marly Jacobino ;mai ela não é parente do tal de Robespierre, da Rev. Francesa, não, viu! Vocês tão se enganando. Bão, mai dexe pra lá! Tô com o figurino da  IRMA, a velhinha das 3 Graças, da peça Nonoberto Nonemorto, ela emprestou pra mim, mai eu num sô ela, viu!! (Vai andando, meio mancando, passo curto e rápido; faz um aceno com a mão e senta-se na cadeira).

      (Tira os apetrechos de bordar de dentro da sacola, começa a bordar, silencia, olha pra trás).

-  Adelaide, ô Adelaide! Onde cê tá,menina! Tá cagano? Ahhh! Termine logo e vai prendê os cabrito senão num sobra leite pras criança. (gritando)

- Tá bão, tá bão, já entendi.Vai fartá leite, os cabrito mama tudo! Separe eles da mãe!! (grita).


          
(Olha pra plateia)
- Adelaide é a minha neta. Faiz tempo que eu num vejo ela. Menina esperta a Adelaide, como tudo os otro, é menina boa. A mãe dela, os tio, tudo eles são gente boa. (Pausa. Levanta o bordado, chora, deixa a mão cair ao colo). Ninguém aparece por aqui. Nunca mai vi ninguém. Deve de tá moça a Adelaide. Cuidava dos porco, dava mio pras galinha. –Ô Adelaide, as criança tão com fome, prende os bezerro tamém; vai fartá leite! Mai vem qui escuitá umas história. Pode se sentá. Aqui... (mostra com o dedo e segue com o olhar. Ri com a mão tapando a boca). Ela adora as história...

 (Ela tira os óculos e larga os bordados sobre a cadeira, levanta-se e vai pra frente)

- “Era uma vez uma velha bem velha, andava a esclerosar e se chamava Dona MARIA; confundia o filho com o carteiro, reconhecia o padeiro e punha os filhos pra fora, à vassourada, achando que eram estranhos. Um dia, ela saiu pelo portão de sua casa, atravessou a rua, parou na calçada da antiga vizinha que estendia roupa na varanda; tocou no ombro da mulher, olhou bem pra ela e disse: -Dona muié, dona muié! A vizinha virou-se para ela: - o que foi Dona Maria? – Eu tô cum medo! –Medo de quê, Dona MARIA? –Medo do cê!!”

(SENTA-SE, SORRI)- Gostou dessa, Adelaide? Cadê as otras criança? (olha ao redor e aponta alguém na plateia) – Ahhaaa, uma tá ali. Pode escuitá tamém. (Olha pra trás, devagar, e indica a Susi e outros). –E as otra tão ali, ai que bão! (olha pra Adelaide): - separô os cabrito da mãe, né? Bão... (olha para o público,muda de entonação e emoção e ritmo):

-“ Era uma vez uma mulher que todo dia reclamava da sujeira que via na vizinha. Espiava pela janela do apartamento –Leonardo! (era o marido dela!), venha ver! Faz tempo que ando reparando nas roupas do varal de D Mercedez... estão sempre sujas! Credo, que porquice deve ser lá dentro... – Deixe disso, Clara! Vai ver eles andam sem tempo ou alguém está doente, sabe-se lá!  - Mas Leonardo!?! As roupas tão cada vez mais encardida... No dia seguinte lá vai Clara com um pano e balde, passa no seu vitrô e grita: Meu Deus,  a Mercedez lavou as roupas com sabão, tá tudo branquinha! –Pois é, disse o esposo, certamente enxaguou bem... FOI VOCÊ QUEM LIMPOU O VIDRO DE NOSSA JANELA, Ó CLARA!, disse ele.  “Por que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, vós que não vedes uma trave no vosso??” (fala a velhinha e estala o dedo na testa).

(Ela senta-se; olha para Adelaide no chão e não vê ninguém).

-Ué, cadê Adelaide? As coisa tão mudano por aqui. A cidade já não é mai a mema. Tem um ódór grandão na entrada da cidade dos Mecdono (é estrangeiro mandano ni nóis), tem tamém ódór fazeno campanha pra pinga; imagine só, já não bastasse os pingaiada que tem por aí?!! Agora tacaram uma estalta de Pexe lá na pras banda da Gronomia... bom, pelo menos, água boa pros pexe nóis num tem, mai é o nome da cidade, né! É bunito! É simbólico! Mítico, ia dizê Adelaide! Separe os cabrito da mãe, Adelaide ( fala baixinho, triste, abaixa e cabeça..., pega as coisas, muda o ritmo e intenção, abre a sombrinha e vai saindo, enquanto fala)

- Tá na hora, né! Dexo aproveitá essas ropa e fazê que nem a veinha fazia lá na peça que Adelaide me levô pra assisti, o tal de nonoberto... faiz tempooo!!  

 ( Começa a dançar e cantar): “Quel mazzolin di fiori che vien dalla montagna, quel mazzolin di fiori che vien dalla montagna, quel mazzolin di fiori que vien dalla montagna e guarda bem che no `l se bagna ché lo voglio regalar. Regalar, regalar...Lo voglio regalare perché l´ è un bel mazzetto, lo voglio regalare perché l´è un bel mazzetto; lo voglio dare al mio moretto questa sera quando `l vien, quando `l viennnnnnn...”  Adios. Gracie, gracie...

  
Agradeço a todos. À Ana Marly, aos amigos e amigas (Sandra, Luciana e outros), à minha irmã Cida e cunhado Apolonito, minhas adoráveis sobrinhas Josielle e Taciana que me auxiliaram na troca de figurino, meu esposo Camilo (cinegrafista e poeta hehehhe), ao Daniel (fotografia), aos músicos, às palhaças "Bene e Lívia", a todo público presente, a Deus Pai e Mãe e aos participantes da peça Nonoberto Nonemorto, do grupo Andaime, na cena das 3 Graças, na qual inspirei a personagem da vovó/Irma, cuja personagem emprestei o belo e intrigante figurino.

4 comentários:

  1. Ai, que pena que eu perdi, Luzia! Deve ter sido muito legal. Ficam aqui os meus aplausos pra você, menina. Parabéns!

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  2. Lu: como foi lindo o Sarau e você de vovò estava muito bem. Uma história que mostra o passar do tempo na vida de uma vovó solitária... Parabéns e obrigada pelas fotos vou publicar lá no blog como já estou fazendo. O Sarau está lá no Agenda Cultural Piracicabana. Um abraço desta CaipiraiccabANA Marly de Oliveira Jacobino

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  3. Parabéns, Luzia. È atriz também, é? Um beijo!

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    1. Obrigada, minha gente, desculpe pela pouca demora, a festa tava boa mas temos de ir embora...

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